Dora Carvalho
Foi difícil escolher as cinco séries inglesas de época para
fazer uma espécie de ranking com as melhores. É lógico que não poderia faltar
Downton Abbey, então, só posso tentar eleger mais quatro. Acabo de assistir as
duas primeiras temporadas de Mr. Selfridge no Netflix e estou encantada com o
enredo, atores, roteiro, cenários, figurinos ... Tudo impecável, leve,
divertido e comovente ao mesmo tempo. O que me fez ter vontade de rever três
excelentes minisséries produzidas pela BBC: Cranford, Bleak House e Orgulho e
Preconceito.
Downton Abbey
Downton Abbey, produzida pela ITV, termina na sexta
temporada, que deve estrear na Inglaterra e Estados Unidos no final deste ano.
E já deixa saudades. A série alcançou a marca de 10 milhões de expectadores nos
episódios de fim de temporada e aqui no Brasil é transmitida pelo canal GNT.
O box com a coleção da primeira a quinta temporada também já está disponível
nas lojas. No Netflix, tem disponível apenas até a terceira.
A série conta a história dos Crawley, uma família
aristocrática inglesa que tenta manter os costumes e tradições de sua classe
social – terras, título de nobreza, casamentos arranjados – e se adaptar ao
contexto de mudança na sociedade dos anos de 1910 e 1920. Em contrapartida,
mostra as aspirações de ascensão dos empregados da casa, que estão em busca de
novas oportunidades profissionais, sobretudo as mulheres, que tentam se firmar
como protagonistas de suas vidas. É encantadora a maneira como os roteiristas
abordam a temática feminina: a entrada no mercado de trabalho, o direito ao
voto e a educação. Apesar do contexto de época, é impossível não se identificar
com as lutas das personagens.
Mr. Selfridge

Mr. Selfridge foi uma ótima surpresa em 2015 e, apesar de
diversas indicações de amigos, demorei para começar a ver. A série conta a
história de Harry Gordon Selfridge (interpretado por Jeremy Piven, que está
excelente no papel), fundador da loja de departamentos londrina Selfridge’s. Em
1909, o comerciante norte-americano chega a Inglaterra disposto a fundar a
maior loja de artigos de luxo da Europa. Londres era uma capital efervescente,
mas ainda não tinha o glamour das compras de Paris. Selfridge não queria apenas
vender roupas, acessórios, perfumes e cosméticos das marcas mais desejadas da
época: pretendia inovar na maneira de comercializar esses itens, oferecendo uma atmosfera teatralizada, com ambientação temática e uma experiência de compra
inesquecível. Para isso, investia fortemente em publicidade e levava para a
loja artistas e personalidades da época. Divertidíssimo ver, por exemplo,
atores do cinema mudo que foram famosos no início do século passado ou ainda
uma sessão de autógrafos de Sir Arthur Conan Doyle, criador do detetive
Sherlock Holmes. O enredo da série é rápido, com resoluções instigantes dos
desafios enfrentados pelo empreendedor. Não vejo a hora de assistir a terceira
temporada. A atração, segundo a ITV, deve contar a ascensão e decadência do
personagem, e terá fim na quarta temporada. A loja, por sua vez, é sucesso até
hoje na Oxford Street, em Londres. Assim como Downton Abbey, Mr.
Selfridge apresenta os desafios dos empregados da Selfridge’s e a afirmação
pessoal e profissional dos personagens da época, que além de buscar ascensão
social, tiveram que enfrentar a tragédia da Primeira Guerra Mundial. A produção é baseada no livro Shopping, Seduction & Mr. Selfridge,
de Lindy Woodhead (Random House). O DVD com a primeira temporada está previsto
para ser lançado ainda neste semestre.
Cranford

Existe uma outra categoria de produções inglesas que não
pode ficar de fora: as minisséries. Todas estão disponíveis em DVDs. Quem está
esperando a estreia dos seriados no Brasil, pode começar a se divertir com
produções de poucos episódios e, como são de época, geralmente são inspiradas
em clássicos da literatura britânica. Uma delas é Cranford (2007), adaptação da
obra da escritora Elizabeth Gaskell. Só tenho uma coisa a dizer sobre essa
produção: se você gosta de séries inglesas, corra para assistir. É uma comédia
de costumes de época estrelada pelas melhores atrizes do teatro inglês: Judi
Dench (007), Eileen Atkins (Magia ao Luar), Julia Mackenzie (dos filmes das
histórias de Agatha Christie), Imelda Stauton (a terrível professora Dolores
Umbridge, de Harry Potter – quem esquece?). Os moradores do minúsculo vilarejo
de Cranford tentam se adaptar às inovações da medicina com a chegada de um novo
e arrojado doutor no local, assim como a aceleração do ritmo de vida, provocado
pela inauguração da linha férrea e uma estação de trem na vila.
Bleak House
O tom sombrio e soturno de Bleak House, de Charles Dickens,
se faz presente nesta produção da BBC de mesmo nome, produzida em 2005. Em 15
episódios de pouco menos de meia hora cada um, o enredo tem como ponto de
partida a morte de um homem misterioso e se desenrola para contar um mistério
que envolve uma linda aristocrata. O contexto histórico é o sistema judiciário
britânico, que Dickens acusava, na época, de ser moroso demais. A ganância dos
envolvidos no processo judicial Jarndyce versus Jarndyce, que se prolongava por
gerações, e a loucura são os pontos trágicos da trama que, chega um certo
momento, fica impossível de largar. Destaque para a impecável participação de
Gillian Anderson (Arquivo X) no papel de Lady Deadlock: até esquecemos que a
atriz é americana, tamanha a perfeição do sotaque e impostação britânicos.
Orgulho e Preconceito
Acho que a minissérie Orgulho e Preconceito sempre vai estar
em uma lista desse tipo. Foi a primeira produção da TV inglesa a alcançar
sucesso estrondoso fora da ilha e ainda por cima levou Colin Firth (Kingsman, O
discurso do rei) ao sucesso. A série dispensa apresentações por ser uma
adaptação do livro de Jane Austen. Apenas pode-se dizer que o alto grau de fidelidade
em relação ao livro é um dos grandes méritos da trama para a TV que, ainda
assim, consegue ter a agilidade suficiente para atrair novos públicos. No papel
de Lizzie Bennet, está a inesquecível interpretação da atriz Jennifer Ehle, que
ganhou um Bafta por sua atuação. A produção é antiga, de 1995, mas não perde a atualidade, graças à qualidade de produção da BBC. Antes que me perguntem:
a série é muito melhor que o filme de Joe Wright (2005), estrelado pela Keira
Knightley.
Se essas séries são as cinco melhores, só assistindo para
saber. Aproveite para ver os atores britânicos consagrados arrasando em suas
atuações. E os mais jovens, que tinham pequenos papéis, mas já eram ótimas
promessas, e hoje fazem sucesso em produções de destaque do cinema e séries de
grande apelo de público, como Game of Thrones.