Por Dora Carvalho
A história
por trás do filme Estrelas além do tempo é por si só e incrível e fascinante.
Três mulheres afro-americanas foram responsáveis por parte dos cálculos e
preparativos para levar os americanos à dianteira em uma das maiores disputas
do período da Guerra Fria entre Estados Unidos e Rússia: a corrida espacial.
Enquanto os russos tinham Yuri Gagarin fazendo o primeiro vôo na órbita
terrestre, os americanos se debatiam com uma série de erros e fracassos, colocando
em risco a existência da NASA.
Margot Lee
Shetterly, autora do livro Hidden Figures (ou figuras escondidas), ainda estava
pesquisando em 2014 a história das mulheres que eram “computadores”, quando foi
convidada a participar do roteiro de um filme que ganharia o mesmo título. Até
o início da década de 60, computadores eram pessoas que faziam os cálculos
matemáticos necessários para a execução de projetos da NASA. A Segunda Guerra
Mundial e o período da Guerra Fria (a tensa disputa por hegemonia entre EUA e
Rússia) fizeram com que o governo norte-americano recrutasse centenas de
profissionais da área de matemática e engenharia. Por essa razão, a população
afro do país começou a ocupar, ainda que de forma tímida, postos de trabalho
no serviço público. Katherine Globe, Mary Jackson e Dorothy Vaughan era um
desses “computadores”. Apesar do conhecimento e sólida formação acadêmica, se
deparavam com severas limitações sociais em razão da segregação de pessoas: não
podiam frequentar os mesmos locais que a população de cor branca, escolas,
estabelecimentos públicos e, mesmo assim, foram pioneiras em suas áreas,
lutando com as armas que tinham contra o preconceito. Eram mães, esposas e
trabalhadoras em busca de dignidade para suas famílias e ascensão pessoal e
social.
Em
departamentos dominados por figuras masculinas no início dos anos 60, as três
conseguiram feitos gigantescos para a época: conseguiram não só serem ouvidas,
mas também puderam contribuir com a pesquisa científica e evolução do
conhecimento.
Só que, como o título em inglês do livro nos apresenta, eram figuras escondidas. Os nomes dessas mulheres até muito pouco tempo atrás eram quase desconhecidos nos meios acadêmicos e científicos. Até que Margot Lee Shetterly iniciasse a pesquisa dessa história que logo ganhou destaque com a compra dos direitos de adaptação para o cinema.
Só que, como o título em inglês do livro nos apresenta, eram figuras escondidas. Os nomes dessas mulheres até muito pouco tempo atrás eram quase desconhecidos nos meios acadêmicos e científicos. Até que Margot Lee Shetterly iniciasse a pesquisa dessa história que logo ganhou destaque com a compra dos direitos de adaptação para o cinema.
É difícil
definir o que é melhor neste filme, já que uma história tão interessante não
ofereceu dificuldades para o diretor Theodore Melfi (ainda sem grandes títulos
no currículo) transpor para as telas uma narrativa tão instigante. Mas ele fez
mais. Colocou no elenco três gigantes: Octavia Spencer (que faz Dorothy
Vaughan), Janelle Monáe (cantora estreante como atriz e já surpreendeu) e
Taraji P. Henson, que está arrasando no papel da matemática Katherine Globe e,
sem dúvida, conduz o filme, tamanha a força da interpretação. O longa tem ainda
Kevin Kostner, Kirsten Dunst e Jim Parsons (o eterno Sheldon Cooper de “The Big
Band Theory) que funcionam como um excelente elenco de apoio para fazer as três
atrizes brilharem ainda mais.
O filme
Estrelas além do tempo não tem grandes inovações cinematográficas, mas se
agiganta com as atuações, a perfeita recriação de época, seja no figurino e
cenários e, finalmente, pelas discussões que suscita. Apesar do excesso de
indicações de La la Land – Cantando estações, ficarei na torcida para que a
força da história de vida de três mulheres notáveis ganhe ainda mais destaque.
O longa concorre a três premiações: Oscar de melhor roteiro adaptado, atriz
coadjuvante para Octavia Spencer e de melhor filme. É possível que a atriz
traga a estatueta para o filme.
Recomendo
muitíssimo a leitura do livro, que traz com riqueza de detalhes como era o dia
a dia da NASA nas décadas iniciais, quando era chamada de NACA, assim como a
vida dos trabalhadores do primeiro centro de computação do complexo de pesquisa
espacial. O filme é inspirado na história escrita pela autora, com mais destaque
para o feito dessas três mulheres. Este é um raro caso em que livro e filme se
complementam, já que foram produzidos quase que ao mesmo tempo e ambos são
muito bons. Vale a leitura antes ou após o filme.
Estrelas além do tempo - Margot Lee Shetterly - Editora HarperCollins (2017)