sábado, 29 de agosto de 2015

Gustav Klimt, A dama dourada e a Segunda Guerra

Por Dora Carvalho

Durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de obras de arte foram confiscadas pelo exército nazista das residências, empresas e instituições judaicas. Estima-se que pelo menos 100 mil objetos ainda não foram restituídos aos descendentes dessas famílias e estão espalhados em várias partes do mundo. Parte desta história é retratada no filme A dama dourada (2015), estrelado pela premiada atriz Helen Mirren (A rainha/2006).
Baseado no livro da jornalista americana Anne Marie O’Connor, é uma história extraordinária sobre como o quadro O retrato de Adele Bloch-Bauer, obra-prima do pintor austríaco Gustav Klimt, foi parar no museu Belvedere de Viena. O longa conta a disputa judicial entre Maria Altmann - a sobrinha da musa retratada no quadro - e o governo austríaco para reaver a posse da pintura.
Esse é o tipo de filme que muitas informações podem acabar sendo spoilers para quem não conhece nada da história e até pode tirar um pouco do suspense proposto pelo longa dirigido por Simon Curtis. Particularmente, tenho gostado de alguns trabalhos desse diretor, que também conduziu outro filme baseado em fatos reais: Sete dias com Marilyn (2011). Curtis também dirigiu o seriado da BBC Cranford , que já falei aqui no blog.
Helen Mirren dá o tom do filme. Embora a história seja triste, a atriz carrega o personagem de curiosas singularidades ao recriar a figura de Maria Altmann, com vários momentos de comédia e, é lógico, faz com que o espectador passe a torcer pelo sucesso da empreitada conduzida por ela e pelo jovem advogado Randy Schoenberg, vivido no longa por Ryan Reynolds (RIPD – Agentes do Além/2013). Uma curiosidade: Schoenberg é descendente do compositor austríaco Arnold Schoenberg, que teve grande influência sobre o movimento expressionista da música no início do século 20. 
A obra de Gustav Klimt é um tesouro da Áustria. O artista foi um dos maiores de seu tempo na Viena do início do século 20 e o quadro O retrato de Adele Bloch-Bauer faz parte da fase dourada do pintor. E o filme nos instiga a conhecer ainda mais um pouco sobre o artista, a família e as inspirações para a intrigante obra de Klimt.








A dama dourada (2015) – 1h50
Direção: Simon Curtis
Livro: A dama dourada: Retrato de Adele Bloch-Bauer - Anne Marie O'Connor - Editora José Olympio

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Estreia mais esperada: 007 contra Spectre

Por Dora Carvalho

Mês de agosto mais parece um período de entressafra de estreias de filmes. Só nos resta aguardar com ansiedade o que vem por aí e aproveitar para colocar em dia as muitas temporadas de seriados, porque tem muita coisa boa para assistir seja na TV a cabo, DVDs ou streaming.

É lógico que tem centenas de filmes estreando, mas minhas expectativas por enquanto giram em torno de poucas produções. Já estou até com saudades de ficar esperando dezembro para a grande estreia de final de ano, como alguma parte da saga Senhor dos Anéis, Hobbit etc …

Mas tem sim um filme que estou aguardando com grande expectativa: 007 Contra Spectre. Desta vez, James Bond investiga uma organização secreta que surge a partir de um fato do passado do agente da rainha.  Enquanto isso, "M" tenta manter o MI6, que pode ser desativado em razão de uma crise política.

Mas por que estou ansiosa para ver 007 Contra Spectre …?   

# tem o Daniel Craig - não preciso me ater a detalhes em relação a isso – o melhor 007 desde Sean Connery, embora eu não tenha nada contra os outros;
# o Christoph Waltz (quem esquece dele em Bastardos Inglórios/2009?) promete ser um vilão que vai ficar na história da trama só pelos poucos segundos que se vê no trailer;
# a cada filme, roteiristas reforçam a mudança de tom da franquia – saem as cenas estapafúrdias e as bond girls lânguidas de sempre e entra um 007 sombrio, frio, acompanhado de mulheres fortes, que subvertem os clichês de mulheres fatais apenas na beleza;
# a lindíssima Monica Belucci no elenco mostra que uma bond girl não precisa estar na casa dos 20 anos e a Lea Seydoux também promete arrasar, misturando o visual bond girl/agente secreta;
# eu achei que iria morrer de saudades de Judi Dench no papel de “M” até descobrir que Ralph Fiennes está no papel;
# só falta agora ouvir a trilha sonora.


O filme é o 24° da franquia e foi dirigido por Sam Mendes. A estreia está prevista para 6 de novembro.




sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Nina Simone: a sacerdotisa do soul

Por Dora Carvalho

Assistir o documentário What Happened, Miss Simone?, produzido pelo Netflix e recém lançado pelo serviço de streaming, nos faz refletir o quão pouco nossa sociedade avançou em relação aos direitos sociais e principalmente os da mulher. Ver a conturbada trajetória de vida da artista e sua influência em relação a opinião pública sobre os direitos civis nos anos 60 nos faz pensar que, de várias maneiras, estamos revendo um triste filme.
Mas o documentário está longe de ser algo desolador. Ao contrário! O talento indescritível de Nina Simone nos preenche de beleza e sensibilidade.
Eunice Kathleen Waymon (nome de batismo da cantora, compositora, pianista e ativista dos direitos civis nos Estados Unidos) foi chamada em 1963 pela crítica e público de “sacerdotisa do soul”.
A voz sem limite e que parecia não haver nenhum esforço para alcançar aquele timbre ao mesmo tempo aveludado, provocante e feroz dava tanta intensidade à obra da cantora quanto o estilo virtuose da artista ao piano. Na metade do documentário, um apresentador de programa de auditório dos anos 60 assim define Nina: “a artista associa técnica e disciplina geralmente utilizadas na música clássica e introduziu a fuga e contraponto ao estilo e espontaneidade livres do jazz”.
Em 1963, Nina Simone foi convidada para fazer uma apresentação de gala no Carnegie Hall, em Nova York e disse: estou no Carnegie Hall e não estou tocando Bach” - em referência ao compositor clássico Johann Sebastian Bach e ao fato de a casa ser notoriamente conhecida por receber músicos eruditos, porém, aberta a artistas populares de grande talento.
A artista começou a tocar piano aos três anos e, incentivada pelos pais, cursou a concorrida e exigente Juilliard School (escola de música e artes cênicas), em Nova York. Vítima de preconceito, não conseguiu se firmar em conservatórios e salas de espetáculos de música erudita, então, partiu para as apresentações de jazz, blues e soul. Foi quando trocou de nome e assumiu o pseudônimo Nina Simone. O estilo logo foi conquistando plateias não só nos EUA como ao redor do mundo. E o legado da artista ultrapassou a esfera do talento musical.
O documentário do Netflix foi produzido pela documentarista norte-americana Liz Garbus. A cineasta teve o apoio da filha da cantora, Lisa Simone Kelly, que dá contundentes depoimentos sobre a relação da artista com o marido violento e fala sobre o ativismo da mãe na causa dos direitos civis. 
Para quem gosta da cantora, a produção surpreende por apresentar o lado mais sombrio da artista sem medo, pois, todo o documentário foi construído a partir de depoimentos de Nina Simone. Quem conhece pouco, vai descobrir um ícone de uma época, que influenciou toda uma geração de músicos. 






What happened, Miss Simone? (2015) - 1h42
Direção: Liz Garbus
Netflix 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Top five: séries inglesas de época

Dora Carvalho

Foi difícil escolher as cinco séries inglesas de época para fazer uma espécie de ranking com as melhores. É lógico que não poderia faltar Downton Abbey, então, só posso tentar eleger mais quatro. Acabo de assistir as duas primeiras temporadas de Mr. Selfridge no Netflix e estou encantada com o enredo, atores, roteiro, cenários, figurinos ... Tudo impecável, leve, divertido e comovente ao mesmo tempo. O que me fez ter vontade de rever três excelentes minisséries produzidas pela BBC: Cranford, Bleak House e Orgulho e Preconceito.

Downton Abbey



Downton Abbey, produzida pela ITV, termina na sexta temporada, que deve estrear na Inglaterra e Estados Unidos no final deste ano. E já deixa saudades. A série alcançou a marca de 10 milhões de expectadores nos episódios de fim de temporada e aqui no Brasil é transmitida pelo canal GNT. O box com a coleção da primeira a quinta temporada também já está disponível nas lojas. No Netflix, tem disponível apenas até a terceira.
A série conta a história dos Crawley, uma família aristocrática inglesa que tenta manter os costumes e tradições de sua classe social – terras, título de nobreza, casamentos arranjados – e se adaptar ao contexto de mudança na sociedade dos anos de 1910 e 1920. Em contrapartida, mostra as aspirações de ascensão dos empregados da casa, que estão em busca de novas oportunidades profissionais, sobretudo as mulheres, que tentam se firmar como protagonistas de suas vidas. É encantadora a maneira como os roteiristas abordam a temática feminina: a entrada no mercado de trabalho, o direito ao voto e a educação. Apesar do contexto de época, é impossível não se identificar com as lutas das personagens.

Mr. Selfridge


Mr. Selfridge foi uma ótima surpresa em 2015 e, apesar de diversas indicações de amigos, demorei para começar a ver. A série conta a história de Harry Gordon Selfridge (interpretado por Jeremy Piven, que está excelente no papel), fundador da loja de departamentos londrina Selfridge’s. Em 1909, o comerciante norte-americano chega a Inglaterra disposto a fundar a maior loja de artigos de luxo da Europa. Londres era uma capital efervescente, mas ainda não tinha o glamour das compras de Paris. Selfridge não queria apenas vender roupas, acessórios, perfumes e cosméticos das marcas mais desejadas da época: pretendia inovar na maneira de comercializar esses itens, oferecendo uma atmosfera teatralizada, com ambientação temática e uma experiência de compra inesquecível. Para isso, investia fortemente em publicidade e levava para a loja artistas e personalidades da época. Divertidíssimo ver, por exemplo, atores do cinema mudo que foram famosos no início do século passado ou ainda uma sessão de autógrafos de Sir Arthur Conan Doyle, criador do detetive Sherlock Holmes. O enredo da série é rápido, com resoluções instigantes dos desafios enfrentados pelo empreendedor. Não vejo a hora de assistir a terceira temporada. A atração, segundo a ITV, deve contar a ascensão e decadência do personagem, e terá fim na quarta temporada. A loja, por sua vez, é sucesso até hoje na Oxford Street, em Londres. Assim como Downton Abbey, Mr. Selfridge apresenta os desafios dos empregados da Selfridge’s e a afirmação pessoal e profissional dos personagens da época, que além de buscar ascensão social, tiveram que enfrentar a tragédia da Primeira Guerra Mundial. A produção é baseada no livro Shopping, Seduction & Mr. Selfridge, de Lindy Woodhead (Random House). O DVD com a primeira temporada está previsto para ser lançado ainda neste semestre.

Cranford


Existe uma outra categoria de produções inglesas que não pode ficar de fora: as minisséries. Todas estão disponíveis em DVDs. Quem está esperando a estreia dos seriados no Brasil, pode começar a se divertir com produções de poucos episódios e, como são de época, geralmente são inspiradas em clássicos da literatura britânica. Uma delas é Cranford (2007), adaptação da obra da escritora Elizabeth Gaskell. Só tenho uma coisa a dizer sobre essa produção: se você gosta de séries inglesas, corra para assistir. É uma comédia de costumes de época estrelada pelas melhores atrizes do teatro inglês: Judi Dench (007), Eileen Atkins (Magia ao Luar), Julia Mackenzie (dos filmes das histórias de Agatha Christie), Imelda Stauton (a terrível professora Dolores Umbridge, de Harry Potter – quem esquece?). Os moradores do minúsculo vilarejo de Cranford tentam se adaptar às inovações da medicina com a chegada de um novo e arrojado doutor no local, assim como a aceleração do ritmo de vida, provocado pela inauguração da linha férrea e uma estação de trem na vila.

Bleak House


O tom sombrio e soturno de Bleak House, de Charles Dickens, se faz presente nesta produção da BBC de mesmo nome, produzida em 2005. Em 15 episódios de pouco menos de meia hora cada um, o enredo tem como ponto de partida a morte de um homem misterioso e se desenrola para contar um mistério que envolve uma linda aristocrata. O contexto histórico é o sistema judiciário britânico, que Dickens acusava, na época, de ser moroso demais. A ganância dos envolvidos no processo judicial Jarndyce versus Jarndyce, que se prolongava por gerações, e a loucura são os pontos trágicos da trama que, chega um certo momento, fica impossível de largar. Destaque para a impecável participação de Gillian Anderson (Arquivo X) no papel de Lady Deadlock: até esquecemos que a atriz é americana, tamanha a perfeição do sotaque e impostação britânicos.

Orgulho e Preconceito



Acho que a minissérie Orgulho e Preconceito sempre vai estar em uma lista desse tipo. Foi a primeira produção da TV inglesa a alcançar sucesso estrondoso fora da ilha e ainda por cima levou Colin Firth (Kingsman, O discurso do rei) ao sucesso. A série dispensa apresentações por ser uma adaptação do livro de Jane Austen. Apenas pode-se dizer que o alto grau de fidelidade em relação ao livro é um dos grandes méritos da trama para a TV que, ainda assim, consegue ter a agilidade suficiente para atrair novos públicos. No papel de Lizzie Bennet, está a inesquecível interpretação da atriz Jennifer Ehle, que ganhou um Bafta por sua atuação. A produção é antiga, de 1995, mas não perde a atualidade, graças à qualidade de produção da BBC. Antes que me perguntem: a série é muito melhor que o filme de Joe Wright (2005), estrelado pela Keira Knightley.


Se essas séries são as cinco melhores, só assistindo para saber. Aproveite para ver os atores britânicos consagrados arrasando em suas atuações. E os mais jovens, que tinham pequenos papéis, mas já eram ótimas promessas, e hoje fazem sucesso em produções de destaque do cinema e séries de grande apelo de público, como Game of Thrones.