A série de
livros Outlander, ou A viajante do tempo, começou a ser escrita em 1988 de
forma bastante despretensiosa, segundo a autora norte-americana Diana Gabaldon.
Acabou se tornando uma super saga de oito volumes e, só recentemente, em 2014,
ganhou as telinhas do canal Starz, dos Estados Unidos, com expressivo sucesso
de crítica e público já no episódio-piloto. Tanto que os produtores, ainda no
início da exibição dos primeiros 16 capítulos, decidiram renovar para a segunda
temporada e, neste ano, mais duas sequências já foram confirmadas. Então, pelo
menos até a quarta temporada o show está garantido. Aqui no Brasil, finalmente
chegou ao Netflix, para alegria dos fãs dos livros, o que pode garantir novos
episódios no serviço de streaming.
Diana
Gabaldon está bem próxima da produção, oferecendo consultoria para os
roteiristas. A primeira temporada tem episódios com a supervisão de Ronald D.
Moore, criador da série para a TV. A escritora fez uma breve participação em
uma cena do quarto episódio - “The Gathering”, como a personagem Iona McTavish.
Esse
trabalho próximo da autora na adaptação da série para a TV garantiu muita
precisão na escolha dos atores. O personagem de Jamie Fraser, vivido na telinha
pelo ator escocês Sam Heughan, é a personificação de um montanhês do século 18.
Além da caracterização, demonstra estar muito à vontade ao falar gaélico
escocês. Caitriona Balfe, que faz a protagonista Claire, se entregou de tal
forma ao papel que arrisco dizer que parece melhor do que a personagem do
livro, descrita com personalidade um pouco mais hesitante no texto de Diana
Gabaldon. A atriz deu nuances diferentes à personagem que, apesar de se deparar
com a violência e os costumes de uma outra época, se apresenta de uma maneira
mais convincente diante das dificuldades para alguém que viaja 200 anos na
história e se depara com um tempo de violência e instabilidade política entre
os escoceses e ingleses. Claire também precisa lidar com uma época em que era
esperado das mulheres uma obediência cega aos maridos e, sendo alguém do futuro
e com o conhecimento de fatos históricos, se utiliza de muito tato para não
interferir no curso dos acontecimentos mais do que é necessário. Essa é a graça
da maioria dos enredos que envolvem viagem no tempo: o fato de uma intervenção
no passado mudar as circunstâncias futuras é o maior dilema dessas tramas,
afinal, alguns personagem poderiam até deixar de existir. Então, o autor sempre
consegue deixar quem lê ou assiste em constante estado de suspense. O
leitor/espectador apenas ilusoriamente sabe o que vai acontecer no futuro.
Na
adaptação para a TV não é diferente. Mas o roteiro da série buscou elementos
que fizeram sucesso em tramas como Guerra dos Tronos e não poupa o espectador
de cenas fortes de violência e crueldade. Curiosamente, a série caiu no gosto
do público feminino no exterior e isso foi atribuído à força da atriz Caitriona
Balfe e também de Sam Heughan, que formam o par romântico da trama e estão
absolutamente entregues aos respectivos papéis, sobretudo, nas cenas mais
quentes.
A recriação
das Terras Altas escocesas e os costumes dos antigos clãs são impecáveis. Quem
gosta de narrativas históricas poderá ver algo que pouco é retratado no cinema
e TV: personagens falando em inglês antigo e no idioma da época (no caso é o
gaélico escocês) e vestimentas que destacam com exatidão a posição dos
integrantes daquele tipo de sociedade. Uma curiosidade: a série destaca objetos
da época, como o fato de padronagem do xadrez dos tecidos indicar o clã ao qual
uma família pertence, assim como os broches que os prendem ao corpo de homens e
mulheres.
Livro e
série contam a história do início da decadência desse estilo de vida e como os
acontecimentos se desenrolaram nas Highlands. Antes essa região era isolada e tinha certa independência de costumes, mas precisavam se sujeitar à coroa inglesa.
Com a queda dos clãs, a força política do centro do governo britânico
prevalesceu. Isso é até hoje motivo de discussão. Não à toa, a Escócia fez
recentemente um plebiscito para decidir se permanecia ou não como país ligado
ao Reino Unido ou independente. A permanência ganhou por pouco.
O toque de
fantasia do enredo da saga Outlander também é recheado de lendas celtas, a
começar pelo início da narrativa, já que a protagonista atravessa uma espécie
de portal do tempo em um antigo círculo de pedras. Aos poucos, os personagens
vão revelando toda a mística em torno desses locais assim como os rituais
druidas. Essa mescla de história, folclore, paisagens idílicas das Highlands e
personagens muito intensos tornam a série Outlander singular. São tantos
detalhes e ações, que é preciso assistir devagar para aproveitar. Já vi duas
vezes e, como sempre acontece, na segunda pude absorver muito mais detalhes e
perceber o capricho da produção e como as descrições do livro foram bem
aproveitadas. Há bastante independência do roteiro televisivo em relação ao livro, o que me parece ser bastante vantajoso para o desenrolar de novas temporadas.
Mas toda a riqueza de informações de livro e série deu origem a uma loja virtual em que
os fãs podem comprar produtos oficiais da série. E o site oficial tem muitas curiosidades: https://www.starz.com/series/outlander/episodes.
Agora é esperar que o Netflix
disponibilize logo a segunda temporada e torcer para que seja tão boa quanto a
primeira.
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