O filme O
contador tinha tudo para ser mais um longa de ação, tiros e pancadaria. Mas o
fato é que o roteiro é assinado pelo excelente Bill Dubuque (O juiz/2014), que vem
enfileirando um filme mais interessante que o outro e atraindo a atenção das
estrelas de Hollywood para longas que, de início, estão longe de ganhar os
holofotes, mas acabam se destacando justamente pelas tramas bem elaboradas. Ben
Affleck, por sua vez, também está em um ótimo momento da carreira e também vem
selecionando papéis que o desafiam como ator, ainda mais agora que pode ficar
estigmatizado como um Batman que ainda não mostrou muito a que veio.
O enredo de
O Contador conta a história de Christian Wolff, um menino com Síndrome de
Savant, com extrema habilidade mental para memorizar fatos e números, mas que
sofre com problemas de interação social. Filho de um militar rigoroso, o garoto
é treinado pelo pai para utilizar ao máximo as habilidades cerebrais e acaba se
tornando um contador a serviço de mafiosos, traficantes e empresários ligados a
atividades ilícitas.
Ben Affleck
convence no papel. E não é só porque há um ligeiro dejá-vu de Demolidor (2003).
Isso porque o roteiro o apresenta como uma espécie de super-herói disposto a
ajudar os outros com suas habilidades extremas. Entretanto, precisa manter a
identidade em segredo por estar sempre na berlinda entre o bem o mal. Além
disso, faz o tipo cara durão e bom de briga e, em alguns momentos, um cowboy
atirador. É uma mescla de diversas referências cinematográficas, com uma abordagem
psicológica, já que a força do personagem vem justamente das dificuldades
psíquicas enfrentadas. A trama reúne ainda J.K. Simmons (Ray) que faz um agente
do imposto de renda americano e Anna Kendrick (Dana), uma contadora. Os dois
personagens servem para nos mostrar os pontos de conexão da trama que vai
ocorrendo em separado ao longo do filme e a maneira como o personagem de
Affleck lida com as emoções e pessoas.
O que pode
incomodar alguns espectadores é o fato de o enredo não ser linear, o que faz a
trama perder um pouco o ritmo de ação e tornar alguns pontos um tanto confusos.
Mas, ao final, essas aparentes falhas de roteiro indicam um propósito
satisfatório. O enigma pode até ser decifrado um pouco antes por quem está mais
atento à história.
O diretor
Gavin O’Connor demonstra experiência à frente de filmes policiais, com cenas
bem feitas de luta, mas com clichês típicos de longas de ação. Isso não é ruim,
pois agrada o público em busca tiros e briga.
Se por um
lado o longa apresenta as imensas dificuldades vividas por alguém que possui
algum tipo de problema ligado ao autismo, por outro, demonstra que a sociedade
ainda não sabe lidar com a ideia de que o nível de inteligência de grande parte
da sociedade ainda não é calculado de uma maneira confiável ou adequada às
habilidades de cada um e que o ser normal está muito longe das estatísticas
consideradas oficiais. É um filme de pancadaria sim, mas também nos apresenta
uma mensagem importante sobre como estamos lidando com o que consideramos
diferente.
Apesar de o
roteiro ser bem engendrado, fica a impressão da necessidade de um novo filme
para explicar algumas características desenvolvidas pelo personagem. Se foi de
propósito ou não e se a ideia for tornar o filme uma franquia, ficou faltando
um pedaço da história de transformação do menino para o super-herói. O filme
surpreendeu em bilheteria nos Estados Unidos no final de semana de estreia.
Vamos aguardar se isso irá encorajar os produtores para uma continuação.
O Contador
Direção: Gavin O'Connor
2h10
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