segunda-feira, 20 de julho de 2015

Uma princesa muito diferente: o conto da Princesa Kaguya

Por Vilma Pavani

Você gostou de Operação Big Hero, da Disney – que venceu o Oscar de melhor animação em 2015, derrotando O Conto da Princesa Kaguya  (Kaguyahime no Monogatari/Japão)? Bem ... sinto muito, mas das duas uma: ou você não viu o conto japonês ou está faltando sensibilidade para apreciar as verdadeiras coisas boas. 
Sei que a cultura japonesa é muito diferente da ocidental e que ficamos viciados em um só tipo de olhar, aquele facinho, ao estilo “bem contra o mal” e o bem sempre vence no fim, nos quais os acontecimentos seguem lineares e o moralismo se sobrepõe à moral (sim, são coisas diferentes). Já vi muita gente boa dizer que os desenhos japoneses são incompreensíveis, que são lentos e absurdos (como se uma princesa sair congelando tudo que toca seja muito normal...). 
Minha sugestão é que vá ver de olhos e mentes bem abertos essa maravilha desenhada toda a mão, em suaves tons aquarelados (e de vez em quando cortada pela fúria de traços pretos de carvão, conforme as situações, que nos provocam sensações melancólicas, alegres, sutis, ou levemente assustadoras pela força dos traços). 
animação foi criada por meio de técnicas convencionais. Como disse, tudo foi pintado e desenhado em papel e somente depois pós-produzido em computadores. Dirigida por Isao Takahata, co-fundador do Estudio Ghibli (ao lado de Hayao Miyazaki  (A viagem de Chihiro/2003 e Pony, uma amizade vinda do Mar/2008, entre outros) tem um roteiro envolvente e poético, e uma linda trilha sonora. Foi inspirado na lenda popular japonesa O Corte do Bambu, uma das mais antigas histórias do país, criada por volta do século X. Um simples cortador de bambu encontra dentro de uma planta uma garotinha minúscula e de aspecto nobre. Ao levá-la para casa, a menina se torna um bebê humano que cresce  rapidamente e recebe o apelido de Pequeno Bambu das crianças vizinhas. O pai, muito simples, recebe presentes de outros bambus (ouro e roupas de seda), o que o leva a sonhar um futuro glorioso para a filha adotiva. Ele a arranca do lugar e a leva para uma nova vida de luxo e etiqueta na capital. Torna-se a princesa Kaguya e sua beleza e seus talentos a fazem disputadas por vários nobres. A pressão e a saudade da vida simples e dos amigos da infância levam a jovem a se tornar infeliz e a conduzem  a uma jornada que revela sua verdadeira origem. 
Com os japoneses nada é simples, e sua literatura e seus filmes, inclusive os infantis, são capazes de delicadezas infinitas, sem no entanto dourar a pílula: a vida é feita de emoções diversas, ganhos e perdas e não há concessões. Uma lição de vida para todos, grandes e pequenos. Mas ao menos no caso do Estudio Gihbli, há uma enorme preocupação em mostrar que homem e natureza são parte de um todo e devem conviver em harmonia. Uma pequena joia que todos deveriam tentar ver: respirando com o olhos e o coração cheios de boa vontade para perceber que o mundo é muito mais do que parece. Aproveite, ainda está nos cinemas!



O Conto da Princesa Kaguya
O Conto da Princesa Kaguya é um filme japonês de animação de 2013 produzido pelo Studio Ghibli, dirigido e adaptado por Isao Takahata
Indicações: Oscar de Melhor Filme de Animação, Japan Academy Prize - Melhor Animação

Vilma Pavani é jornalista, nascida em Marília, terra de japoneses, e tem até os olhos meio puxados de tanto comer sushi nos vizinhos, tomar banho de ofurô, dormir sob futons e ter amigos chamados Satiko, Harumi ou Takashi. Isso talvez explique a fascinação por essa cultura tão especial. Jia ne! (até mais)

2 comentários:

  1. Lindo, Vilma! Não vi, mas adorei. Tudo desenhado no papel antes! Eu também tenho olhos puxados, como você...

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  2. Que delícia de texto!! Parabéns pelo blog Dora e Vilma!

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