Por Dora Carvalho
Sou fã confessa e de carteirinha de Tim Burton. O estilo do diretor sempre tem algo que me agrada muito, um quê de caricatura, algo grotesco, uma maldade vil e ao mesmo tempo risível. Não foi diferente com Grandes Olhos (2014), apesar de ser um filme singular se comparado a outros do cineasta.
Sou fã confessa e de carteirinha de Tim Burton. O estilo do diretor sempre tem algo que me agrada muito, um quê de caricatura, algo grotesco, uma maldade vil e ao mesmo tempo risível. Não foi diferente com Grandes Olhos (2014), apesar de ser um filme singular se comparado a outros do cineasta.
Primeiro porque explora uma história real. A pintora
norte-americana Margareth Ulbrich, ou Margareth Keane, vivida no filme por Amy
Adams, pinta telas com crianças de grandes, melancólicos e assustadores olhos.
Prato cheio para Tim Burton explorar. Mas o fato é que a vida dessa artista é
fascinante. Ela passou anos casada com Walter Keane (Christopher Waltz), que assumiu publicamente as obras da esposa como sendo dele próprio. O filme apresenta as desventuras da talentosa artista que,
apesar do sucesso de suas obras, vivia à sombra do sucesso do marido.
O segundo ponto deste filme é que o grotesco característico
de Burton desta vez ficou por conta da própria história. Como uma mulher pode
viver uma farsa dessas por tanto tempo? O que ela representou para época,
levando o próprio marido aos tribunais para retomar o direito sobre suas obras.
O maior destaque do filme é Christopher Waltz. O ator
passeia em cena com tamanha naturalidade e um risinho cínico que fica até
difícil não gostar do marido vilão. Mas é lógico que as tramoias acabam sendo
tão assustadoras quanto os grandes olhos da artista. Amy Adams está comovente e
melancólica no papel da mãe solteira que se encanta por um charlatão das artes
plásticas e acaba casando para manter aparências sociais.
Outro destaque é a perfeita ambientação de época, com
cenários, figurinos e os enormes carros da década de 50. O longa também nos instiga a pensar
sobre os limites da arte e o valor do artista em tempos em que tudo é
mercadoria.