sábado, 27 de fevereiro de 2016

Doc Martin, um House à beira mar

Por Vilma Pavani

Durante um bom tempo acompanhei pelo canal Film & Arts a série britânica Doc Martin, uma das mais deliciosas comédias dramáticas que já vi. E agora ela chega à Netflix com suas seis temporadas – abrangendo o período de 2004 a 2013 e com uma sétima e provavelmente última temporada que só foi retomada em 2015. Foi um grande sucesso na Inglaterra, onde o ator principal, Martin Clunes, além de tudo é muito bem visto como apresentador de vários documentários sobre a vida animal e sobre as ilhas do Reino Unido.

Cirurgião de sucesso que precisou abandonar a profissão após desenvolver uma fobia por sangue, o médico Martin Ellingham (Clunes) acaba decidindo morar no vilarejo de Portwenn (o lugar real, uma vila de pescadores, fica em Port Isaac, na Cornualha, e é tão bonito que se tornou um procurado  destino turístico com o seriado), trabalhando como clínico geral. Mas além das circunstâncias estranhas de sua mudança de carreira, Doc Martin, como é chamado pelos locais, é um homem muito complicado, que tem dificuldades sérias de compreender e expressar sentimentos, muitas vezes ofendendo as pessoas com sua sinceridade absoluta. Pode-se dizer que é um House sem hospital. E é claro que precisa de um grande esforço para conviver com a população local.

Certo que os habitantes de Portwenn são muitas vezes tão excêntricos quanto o médico e o típico humor inglês faz com que tudo se torne eventualmente bizarro. Vale a pena conferir os vários personagens da trama, que incluem a professora local vivida por Caroline Catz (a mais “normal” de todas), que se torna o interesse romântico (na medida do possível) do médico e a destemperada atendente do consultório, Jessica Ramson, entre outras. Se você gosta de humor inglês e de um roteiro engraçado e inteligente, não perca a série. Se não gosta, azar seu...



Vilma Pavani é jornalista, detesta médicos e quer ser tratada pelo House ou Doc Martin em caso de necessidade.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Trumbo, a caçada às bruxas nos anos 50

Por Vilma Pavani

Diferentemente de O Regresso, o filme Trumbo não tem nada de extraordinário visualmente. Pelo contrário, é um filme quadradinho, com muitos diálogos (ótimos, por sinal), tudo bem papai-mamãe, com começo, meio e fim e que tem como principal apelo o seu pano de fundo, a histeria anticomunista dos anos 50 nos Estados Unidos e que deu origem à odiosa “lista negra”, que impediu dezenas de atores, roteiristas e diretores de trabalhar em Hollywood por serem ligados ou tidos como simpatizantes do Partido Comunista.
Primeiro, minha gente, vamos lá: comunista americano era no máximo cor de rosa. Na maioria eram antinazistas que apoiaram a União Soviética em sua luta contra Hitler. Depois, quando os EUA ficam “de mal” com a URSS, todos os que apoiaram a causa deveriam, na cabeça de um grupo de parlamentares e líderes em várias áreas, de também endemoninhar os ex-aliados. Felizmente, a questão da liberdade de expressão é um apelo muito forte desde os primórdios da vida americana, e a resistência, embora tímida a princípio, acabou por derrubar (depois de alguns bons anos) o chamado macartismo.
No período mais duro desse movimento, liderado pelo senador Joseph McCarthy, em especial nos anos 50 a 57, milhares de americanos tornaram-se vítimas de agressivas investigações e inquéritos abertos pelo governo e indústrias privadas. Eram demitidos e impedidos de trabalhar, muitas vezes com base em denúncias sem provas. O principal alvo das suspeitas foram funcionários públicos, trabalhadores da indústria do entretenimento, educadores e sindicalistas. Foi uma verdadeira caça às bruxas.
O roteirista Dalton Trumbo (Bryan Cranston), personagem do filme, Trumbo, a Lista Negra, tem uma história exemplar do que isso significou em Hollywood. Filiado ao Partido Comunista em 1943, já era um roteirista renomado quando caiu nas malhas do Comitê de Atividades Antiamericanas. Ele e mais nove outros roteiristas (chamados de The Then) recusaram-se a responder às perguntas do Comitê e foram parar na cadeia. Ao sair, depois de 11 meses de prisão, Trumbo e os demais foram  implacavelmente perseguidos. Ele acabou sobrevivendo escrevendo roteiros que eram assinados por outros colegas (alguém lembra do delicioso Testa de Ferro por Acaso, com  Woody Allen?). Uma de suas perseguidoras mais vorazes era a atriz (não lá muito bem-sucedida) e colunista Hedda Hopper, que fazia e desfazia as vidas de muitos atores e pessoas da indústria cinematográfica com suas fofocas, avidamente lidas em vários jornais dos EUA. Hopper foi vivida no filme pela sempre gloriosa Helen Mirren, uma coadjuvante de luxo para Cranston, que por seu lado está perfeito como o irônico e icônico Trumbo.
Mesmo escrevendo sob pseudônimo, Trumbo ganhou dois Oscar naquele período, por A Princesa e o Plebeu (1953) e Arenas Sangrentas (1956). A ironia da coisa é que todo mundo sabia, nos bastidores, o que se passava, mas os estúdios fingiam não saber quem era o homem por detrás dos pseudônimos. O mesmo aconteceu com outros roteiristas, com quem Trumbo “terceirizava” os trabalhos, até que, em 1957, praticamente ao mesmo tempo, o diretor Otto Preminger e o produtor e ator Kirk Douglas decidem colocar o nome de Trumbo nos créditos dos filmes Exodus e Spartacus (que levou o Oscar daquele ano), derrubando assim a odiosa lista.
O Comitê, aliás, usava como argumento que a indústria do cinema subvertia os valores democráticos e patrióticos do país. Sabendo, como se soube depois, dos vários filmes feitos pelos perigosos comunistas de plantão, fico pensando quem pode ter se tornado “vermelho” por assistir A princesa e o Plebeu, comédia romântica deliciosa com Audrey Hepburn e Gregory Peck. Embora ridícula, numa entrevista Trumbo diz que a lista negra foi perversa, pois causou desemprego, depressão e suicídios e vitimou até mesmo aqueles que, pressionados, delataram companheiros. Afinal, como lembra Edward G. Robinson, um dos delatores, os roteiristas ainda podiam escrever anonimamente, mas ele, um ator, não tinha como reinventar-se.
Enfim, é um filme interessante para quem gosta de filmes biográficos (meu caso) e que não se importam em fixar-se no roteiro (neste caso, uma merecida homenagem à classe) mais do que na forma. Para quem não se interessa por temas mais “politizados”, melhor ver o urso dando porrada no DiCaprio ou o Matt Damon brincando de horta em Marte. Ahh, acho que Cranston está melhor do que DiCaprio em O Regresso, mas isso não deve fazer diferença no resultado.


Vilma Pavani é jornalista e se tornou de esquerda depois de assistir Arenas Sangrentas, que fala da amizade de um menino com um touro condenado a ir para a arena. Sempre torço pelo touro, o que deve ser uma grande subversão.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

O Regresso: quando o cenário é maior que o filme

Por Vilma Pavani

Nunca fui chegada em filmes sobre sobreviventes a naufrágios, acidentes, nevascas etc e tal. Muito menos gosto de filmes sobre alguém querendo se vingar a qualquer custo. Só por isso não deveria ter ido assistir O Regresso (The Revenant, que soaria melhor como O Retornado, ou O Ressurgido, pois tem um significado em inglês que tem um quê de “voltado dos mortos”), que deve dar finalmente o Oscar a Leonardo DiCaprio. Aliás, também não sou fã número 1 do ator, que por sinal está muito bem no filme, mas não melhor do que em O Aviador (2004) ou Os Infiltrados (2006). Só que em O Regresso vale o esforço físico na neve, o total abandono da pele do herói bonitinho, coisa que Hollywood adora premiar. Com aqueles olhos, não se consegue estragá-lo totalmente, mas chegam bem perto.
O diretor, o mexicano Alejandro González Iñárritu, vem se destacando “na comunidade” americana, depois das indicações por Babel (do qual não gostei e que só ganhou o Oscar de trilha sonora) e dos quatro Oscar (incluindo direção e melhor filme) com Birdman, bem melhor e com uma formidável interpretação de Michael Keaton, que deveria ter levado a estatueta no lugar de Eddie Redmayne . Ainda acho que é um diretor em ascensão e que deve ser avaliado nos próximos trabalhos. Nesse, dá umas escorregadelas feias quando tenta fazer poesia levitacional com a esposa morta (não, não é spoiler, isso fica claro desde o começo do filme) do explorador vivido por DiCaprio e que lidera um grupo de caçadores de peles  pelo gelado rio Missouri abaixo (ou acima) em finais do século XIX. O resumo do filme já deixa claro que ele é atacado por selvagens, depois por um urso, é abandonado para morrer e conta sua luta para sobreviver e se vingar de quem fez isso com ele.
Bem, o filme todo é isso e eu teria me entediado se não fosse o magnifico trabalho de um homem, Emmanuel Lutezki, que faz maravilhas com a fotografia e trabalha com grandes  planos-sequências inclusive em cenas de ação, o que deve ter dado um trabalho dos diabos! Não estranhei o resultado depois que descobri que ele foi o fotógrafo de A Ávore da Vida (2011)de Terrence Malick (como os filmes de Malick não são do tipo entretenimento fácil, nem dão muita bilheteria, muita gente perde a chance de conferir o que Lutezki é capaz de fazer com uma câmera). Vale a pena ver qualquer coisa que ele faça, até propaganda de cerveja. Ninguém assiste a O Regresso sem se sentir dentro daquele cenário primitivo de neve, frio, sangue , maldade e, às vezes, inesperada solidariedade. Quando a câmera "olha para cima", você se vê, pequeno e frágil, sob o olhar frio e meramente observador de Deus. A história do filme é “esquecível”, o visual é quase tudo. Se o diretor merece aplausos, acho que é mais por não interferir (suponho que tenha sido assim) com o trabalho de seu fotógrafo.
Em alguns momentos, o modo de trabalhar de Lutezki  e do diretor  me fizeram lembrar de Dersu Uzala, um dos mais belos filmes de Akira Kurosawa, inclusive a cena de construção de um abrigo feita por um índio para salvar a pele de DiCaprio. Kurowasa também trabalhava em apenas determinadas horas do dia para conseguir os efeitos de luz na floresta,com tomadas  longas e belas. Já outra cena de O Regresso me fez dar uma risadinha, porque em dado momento o ator se enfia na carcaça de um cavalo para escapar da morte pelo frio e eu pensei: "Pronto, virou Star Wars" (lembram de Han Solo colocando Luke dentro de um bichão para salvá-lo, numa nevasca?)
Embora sobre pouco espaço para os demais atores, o parceiro traidor (Tom Hardy) e o capitão da expedição (Domhall Gleason) por exemplo, têm chance de mostrar que são bons atores . Sem falar no urso, ou melhor, na ursa, que merecia um Oscar como "Mãe do Ano". Por sinal, a ursa estava cheia de razão ao atacar, tentando proteger seus filhotes, que sem dúvida não tiveram a menor chance de sobreviver sem ela.




Vilma Pavani é jornalista, detesta filmes cheios de sofrimento e acha que os homens brancos  não tinham nada que se enfiar onde não foram chamados.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

2016 na telinha: a maratona começa no feriado

Por Dora Carvalho

No que depender das estreias de novas séries e retomada das produções das consagradas, não sairemos da frente da TV em 2016. A única possível salvação é a aflitiva demora dos lançamentos no Brasil, o que pode dar um certo fôlego no intervalo entre assistir uma temporada e outra.
Mas 2016 já começou muito bem com a volta de Arquivo X e vai ficar ainda melhor com a continuidade das temporadas de Sherlock (sem data prevista e pode ficar para 2017), Grace and Frankie – a segunda temporada está demorando demais para estrear, porém, está prevista para maio deste ano, e já há negociações para a terceira temporada nos Estados Unidos; e a incrível Outlander, cuja segunda temporada já está em final de produção. Isso sem contar as mais que consagradas: Demolidor (março), Guerra dos Tronos (abril) e outras tantas que eu ainda nem comecei a ver: House of Cards (a quarta temporada estreia em março) e Penny Dreadful (maio), série que já vai para a terceira temporada.
Neste ano, só não se sabe quando chegará ao Brasil, a HBO vai estrear Vinyl, produzida por Martin Scorcese, Mick Jagger e Terence Winter (muita expectativa!).



Quem está com saudades de Hugh Laurie (House) vai poder ver o ator em outra série que promete: The night manager, uma co-produção entre a BBC e AMC, baseada no livro “O infiltrado”, de John Le Carré, que tem ainda no elenco Tom Hiddlestone (o Loki, do filme Thor).


Outro ator de peso que vai para telinha é Anthony Hopkins em The Westworld, produção da HBO. Os atores Rodrigo Santoro e Ed Harris também estão na trama que é baseada no livro de Michael Crichton, que mistura ficção científica e faroeste.
O teaser é incrível. Veja: 



O próximo feriadão prolongado promete maratona das séries atrasadas. E que venham as estreias de 2016!