sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Nina Simone: a sacerdotisa do soul

Por Dora Carvalho

Assistir o documentário What Happened, Miss Simone?, produzido pelo Netflix e recém lançado pelo serviço de streaming, nos faz refletir o quão pouco nossa sociedade avançou em relação aos direitos sociais e principalmente os da mulher. Ver a conturbada trajetória de vida da artista e sua influência em relação a opinião pública sobre os direitos civis nos anos 60 nos faz pensar que, de várias maneiras, estamos revendo um triste filme.
Mas o documentário está longe de ser algo desolador. Ao contrário! O talento indescritível de Nina Simone nos preenche de beleza e sensibilidade.
Eunice Kathleen Waymon (nome de batismo da cantora, compositora, pianista e ativista dos direitos civis nos Estados Unidos) foi chamada em 1963 pela crítica e público de “sacerdotisa do soul”.
A voz sem limite e que parecia não haver nenhum esforço para alcançar aquele timbre ao mesmo tempo aveludado, provocante e feroz dava tanta intensidade à obra da cantora quanto o estilo virtuose da artista ao piano. Na metade do documentário, um apresentador de programa de auditório dos anos 60 assim define Nina: “a artista associa técnica e disciplina geralmente utilizadas na música clássica e introduziu a fuga e contraponto ao estilo e espontaneidade livres do jazz”.
Em 1963, Nina Simone foi convidada para fazer uma apresentação de gala no Carnegie Hall, em Nova York e disse: estou no Carnegie Hall e não estou tocando Bach” - em referência ao compositor clássico Johann Sebastian Bach e ao fato de a casa ser notoriamente conhecida por receber músicos eruditos, porém, aberta a artistas populares de grande talento.
A artista começou a tocar piano aos três anos e, incentivada pelos pais, cursou a concorrida e exigente Juilliard School (escola de música e artes cênicas), em Nova York. Vítima de preconceito, não conseguiu se firmar em conservatórios e salas de espetáculos de música erudita, então, partiu para as apresentações de jazz, blues e soul. Foi quando trocou de nome e assumiu o pseudônimo Nina Simone. O estilo logo foi conquistando plateias não só nos EUA como ao redor do mundo. E o legado da artista ultrapassou a esfera do talento musical.
O documentário do Netflix foi produzido pela documentarista norte-americana Liz Garbus. A cineasta teve o apoio da filha da cantora, Lisa Simone Kelly, que dá contundentes depoimentos sobre a relação da artista com o marido violento e fala sobre o ativismo da mãe na causa dos direitos civis. 
Para quem gosta da cantora, a produção surpreende por apresentar o lado mais sombrio da artista sem medo, pois, todo o documentário foi construído a partir de depoimentos de Nina Simone. Quem conhece pouco, vai descobrir um ícone de uma época, que influenciou toda uma geração de músicos. 






What happened, Miss Simone? (2015) - 1h42
Direção: Liz Garbus
Netflix 

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