Por Dora Carvalho
Quando os
primeiros acordes de jazz tocam nos créditos de abertura, a sensação de
conforto é instantânea: enfim, um filme de Woody Allen para nos trazer o prazer
de um bom enredo, cinema de primeira linha e um misto de comédia e melancólia.
E Café Society reúne o melhor do cineasta: uma homenagem explícita ao cinema de
antigamente, os áureos anos 30, com o glamour dos artistas da época, as festas
de gala, regadas à espumantes e um brilho cinematográfico que há muito se
perdeu. Allen também faz autorreferências através do personagem de Bobby
Dorfman, interpretado de forma excelente por Jesse Einsenberg e quase vemos o
próprio diretor na pele do ator. Tem também o humor que vai se sobrepondo em
diálogos frenéticos: piscou e logo já vem outra piada mordaz. E ainda a sátira
ao modo de vida de quem estava envolvido com o mundo hollywoodiano nos
primórdios dos blockbusters. Quando pensamos que para por aí, o velho e bom
Woody Allen recria quase que um Grande Gatsby na Nova York dos anos 30 e, é
claro, desfila as paisagens da cidade e demonstra todo o amor que tem pelos
cenários nova-iorquinos e sempre tão fotogênicos e encantadores nas lentes do
diretor.
Muitos
podem dizer que não é Woody Allen em sua melhor forma. Mas como não amar perceber
a mão do cineasta em atores sofríveis e arrancar deles o melhor que podem fazer,
como é o caso da atriz Kristen Stewart. Jesse Eisenberg está excelente, mas
fica melhor ainda do lado da família judia – um ator melhor que o outro e Allen
perfeitamente à vontade para escrever diálogos satíricos em referência às próprias
origens familiares. Ben Dorfman, vivido por Corey Stoll, que fez Ernest
Hemingway em Meia-noite em Paris, volta a trabalhar com o diretor em Café
Society em um personagem sensacional: um gângster super estereotipado, mas
extremamente engraçado. Jeannie Berlin faz a típica mãe judia Rose e está hilária. Steve Carrell é Phil Dorfman, um agente das estrelas de Hollywood,
personagem que faz a costura do enredo, já que a trama se alterna entre a
California e New York ao longo do filme.
Café
Society é o primeiro filme do diretor com financiamento feito pela Amazon
Studios, braço da Amazon.com, que tem escolhido grandes diretores em suas primeiras
investidas na tela grande. Mas, qualquer que seja a motivação para fazer o
filme, Woody Allen acerta a mão e nos ajuda simplesmente a nos apaixonar
ainda mais pelo mundo do cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente e participe do blog!