Por Dora Carvalho
Hinterland
em uma tradução livre do alemão significa interior, uma cidade atrás de um
porto ou ainda se refere a uma região com população escassa, com menor
desenvolvimento. É justamente essa a atmosfera que dá o clima do seriado
britânico Hinterland (BBC), sem dúvida um dos melhores enredos policiais
disponíveis atualmente e que já tem duas temporadas no Netflix e uma terceira em
fase de produção.
O enredo
principal é clássico das estórias típicas de detetive. Um corpo é encontrado em
um local isolado, cujas circunstâncias de assassinato são as mais misteriosas
possíveis. Mas há várias maneiras já conhecidas de desatar os nós da
investigação e um jeito que pode ser muito diferente. É aí que a série
Hinterland se destaca.
Primeiro: a
série se passa na aldeia de Aberystwyth. Sim, os nomes locais são quase
impronunciáveis, com muitas consoantes. Aí que vem o segundo ponto – a trama se
passa no País de Gales, cenário pouquíssimo conhecido no imaginário cinematográfico
e da TV. Em galês, o nome do seriado é Y Gwyll – Crepúsculo (há trechos
escritos e falados em galês, porque as cenas foram rodadas nos dois idiomas). Terceiro:
tudo acontece em áreas isoladas, onde o vento e o frio são quase constantes, a
vegetação é singular, porque há lugares que parecem áridos, mas também
florestas escuras e úmidas, além de pântanos. Há realmente locais assustadores
nas locações de Hinterland (quase toda filmada em Ceridigion, região portuária
do País de Gales). Ou melhor, a trama deixa tudo ainda mais sinistro e
sombrio, com aquelas árvores retorcidas e sem folhas típicas dos romances
góticos.
O DCI Tom
Mathias (o ator galês Richard Harrington, que já fez um ótimo papel na
minissérie Bleak House também da BBC, além de Lark Rise to Candleford) e sua
parceira Mared Rhys, vivida pela atriz Mali Harris, têm um jeito peculiar de
fazer suas investigações e interrogatórios. Usam a emoção no limite máximo.
Ambos os personagens são pessoas atormentadas ou por dramas do passado
(Mathias) ou por relacionamentos familiares difíceis (Mared). O que ocorre com
os protagonistas é um espelho das investigações, já que é necessário primeiro
descobrir segredos de família muito graves antes de chegar a um desfecho. Outro
ponto positivo da série. De início, essas tramas paralelas que vão sendo
tecidas faz parecer que a estória está perdendo o curso, saindo dos eixos, mas
é um recurso para levar o telespectador a duvidar de tudo e de todos, inclusive
dos investigadores, já que eles se envolvem muito com os suspeitos do
assassinato. Cada episódio faz um eco do passado dos personagens ressoar
novamente e nos ajuda a entender a formação psicológica dos protagonistas.
É uma série
que não tem nenhuma pirotecnia e não tem as cenas de ação típicas de seriados
policiais, sobretudo, se compararmos com os americanos, que tem os fãs mais entusiastas.
Portanto, isso pode desagradar e muito quem gosta e está mais acostumado com
esse estilo.
Mas quem
busca recursos de cinema muito bem adaptados para TV – a luz que revela e
esconde o que está prester a acontecer; planos amplos em cenários inóspitos,
trilha sonora que eleva o suspense e os batimentos cardíacos e, o mais
importante, interpretações de atores que realmente mergulham nos aspectos
psicológicos dos personagens (isso acaba se revelando um ponto importante das
investigações para a descoberta do verdadeiro assassino) tem chances de gostar.
E me agradou mais ainda por ter toda uma atmosfera noir, porém, explorada em um
cenário inusitado para o gênero.
As
temporadas têm três e cinco episódios de mais ou menos uma hora e meia cada um. Isso
permite um mergulho muito maior na estória e o roteiro lembra bastante tramas
literárias, já que há tempo para explorar várias facetas dos personagens e
nuances dos casos investigados. No primeiro episódio, tem-se a impressão que a
série tem um ritmo mais lento, mas isso se desfaz logo a partir do segundo.
São tanto
elementos explorados na série criada por Ed Thomas e Ed Talfan, produtores
radicados em Cardiff, capital do País de Gales, que o fato de ter tido uma
grande receptividade do público britânico não causou tanta surpresa, já que os
dois declararam que os cenários galeses iriam sim instigar a curiosidade do público,
de tão desconhecidos.
A terceira
temporada deve ir ao ar em 2017. Por enquanto, as duas primeiras estão disponíveis
no Brasil apenas pelo Netflix.
Só uma pergunta: o que será que está por trás do misterioso inspetor-chefe
Brian Prosser (interpretado pelo ator Aneirin Hughes)? Ele tem um quê de
Arquivo-X? Veja a série e lance suas apostas.
Adorei! Aguardando a netflix disponibilizar a terceira temporada!!!
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