Por Dora Carvalho
Não importa se você não entende nada de swaps, subprimes,
títulos podres ou classificação de risco BB, BBB+ ou AAA. Se você quer saber
como se deu o maior colapso financeiro global, não deixe de assistir o filme A
grande aposta (2015).
Dirigido por Adam McKay, diretor com produções inexpressivas
e que coloca agora no currículo um longa que, sem dúvida, o deixa em destaque,
não apenas por ter recebido a indicação de Oscar de melhor filme e diretor, mas por que
de fato é uma história que põe o dedo na ferida e deixa o espectador grudado na cadeira do
começo ao fim. Esse era um dos filmes que tinha muita expectativa para este ano
e não me decepcionei.
“A grande aposta” a que se refere ao título do filme nada
mais é a história real de quatro investidores que conseguiram a façanha de
prever o que ninguém “queria ver antes": o grande colapso financeiro de 2008,
que culminou na maior crise econômica já registrada na história.
Com um ritmo de documentário e narrado por Ryan Gosling, que
faz o papel do investidor Jared Vennet, do Deutsche Bank, o longa começa com a história de Michael Burry
(Christian Bale – excelente no papel, não à toa recebeu indicação para o Oscar), um dos primeiros a perceber que o
mercado hipotecário norte-americano estava à beira de um salto de inadimplência
sem precedentes. Obviamente, ninguém acreditou. Uma série de acontecimentos tão
surreais que tornam a realidade excelente para virar um filme de ficção levam
os outros investidores a quase que literalmente “farejar” que algo estranho
estava acontecendo no mercado.
O enredo segue em ritmo vertiginoso, elevando o suspense ao
absurdo, porque já sabemos o que aconteceu de fato – a crise global – mas o
roteiro nos leva a querer saber se esses personagens conseguiram aproveitar a grande sacada que tiveram. Os problemas pessoais e a incrível aposta que
esses investidores fizeram é colocada no filme de forma a gerar total
identificação no espectador: o que você faria no lugar deles? Isso é genial no
roteiro, porque, é lógico, parte-se do princípio de que sabemos o final da
história. Gera-se então novas maneiras de suspense que prende o espectador de
modo que se possa entrar na loucura que foram as decisões tomadas no cassino
global que se tornou a economia do planeta. Garotos que tomavam decisões que
afetaram a renda e os empregos de milhares de operários, aposentados e
pensionistas em todo o mundo. O mais interessante do filme é percebermos
que no meio daquele apocalipse quem imaginávamos que sairia perdendo também
foram os grandes vencedores.
O elenco estrelado, que tem Brad Pitt, Steve Carrell e Marisa
Tomei, tem o mérito de tratar a coisa toda como um grande deboche, tamanho o
absurdo das circunstâncias apresentadas ao longo da história e é como de fato
aconteceram. A melhor pergunta do filme: “afinal, você é um investidor ou um
traficante?”. Outro ponto positivo: não há maniqueísmo – nada de vilões
ou mocinhos. Ninguém está interessado em ser legal e sim ganhar o máximo ou perder o
menos possível. Mas a história não termina nada bem. E todos sabemos disso.
É lógico que o filme vai gerar ainda mais perguntas. Sugiro
então ver o documentário Trabalho Interno (Inside Job/2010), dirigido por
Charles Ferguson, vencedor do Oscar de melhor documentário. E veja como é
possível ficar muito rico apenas fechando os olhos para a realidade.
Assisti o file e adorei. Faltava só este complemento: ler a ótima crítica de Dora Carvalho.
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