sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sense8: estranhas sensações

Por Dora Carvalho

Desde o sucesso de Matrix (1999), os irmãos Wachowsky tentam um filme após o outro criar roteiros e efeitos especiais que surpreendam tanto quanto a trilogia que levou os dois cineastas ao mainstream do cinema. A questão é: se a estratégia de criar uma história com múltiplas referências da cultura pop deu ótimos resultados uma vez por que não repetir a fórmula? O fato é que não está dando muito certo. Lamento dizer e já foi triste perceber isso em Cloud Atlas (2013), que reunia um time excelente de atores e tinha uma ideia bem interessante.
Sense8, a série dos dois cineastas produzida para o Netflix, surpreende sim, pela ousadia do roteiro, cenas espetaculares, filmagens em várias partes do planeta, a profusão de cores e o turbilhão de imagens que passam por Londres, Berlim, Mumbai, Nairóbi etc, com locações e planos que raramente são vistos em uma produção para televisão. A ideia de que oito pessoas estão conectadas de alguma forma e que, mesmo a milhares de quilômetros de distância conseguem sentir o que o outro está sentido – os “sensates”- é sensacional - não há outra palavra, com perdão da redundância. E também há um pouco de experimentalismos, o que é sempre ótimo.
Os atores estão excelentes em cena, com destaque para o mexicano Miguel Ángel Silvestre, no papel de Lito, e é muito bom ver artistas americanos, mexicanos, coreanos, indianos, etc, em uma única produção e ainda falando os próprios idiomas. Todos muito bem em seus papéis e entrosados. Outro destaque do elenco é a participação de Daryl Hannah, cuja personagem parece ser o ponto inicial de conexão entre os sensates. Pena que a história seja tão estranha e mal amarrada. É preciso pelo menos três episódios (são 12 no total) para pararmos de nos perguntar: afinal, sobre o que é a série? Só fica melhor quando as conexões entre os sensates começam a aparecer e as microestórias prendem a nossa atenção, mesmo que a gente não saiba muito onde o enredo condutor da trama vá nos levar.
O que fica claro desde o início é a autorreferência. A cena final de tiroteio do primeiro filme da saga Matrix tem um claro “remake” em um dos episódios – foi divertido, porque teve reprise até da sonoplastia e pareceu proposital. O que incomoda é a mania atual dos Wachowsky em querer não fazer sentido, como aconteceu em Cloud Atlas, isso sem contar O destino de Júpiter (2014).

Ok, ok, para quê fazer sentido, com atores tão lindos, cenas exuberantes e uma superprodução globalizada? Realmente, não precisa. Que pena! A série tinha tudo para ser perfeita. Mas vale pela ousadia. Os produtores não tiveram medo de fazer cenas fortes de violência e de sexo intenso. Não há nada de politicamente correto na série. Ufa!





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