quarta-feira, 3 de junho de 2015

O poema do caos

Por Vilma Pavani
Já vou avisando aos mais entusiasmados que vi uma porção de defeitos no novo Mad Max (A Estrada da Fúria), a começar pelo próprio Mad Max - não o ator em si, mas o personagem (embora Tom Hardy nem de longe cause o impacto de Mel Gibson na época do original). Mas é impossível não se deslumbrar com o visual ensandecido do filme, que considero mesmo o “poema do caos” a que me refiro no título. Vi o filme no Imax, o que já é uma imersão na tela, e as imagens me pegaram em cheio. Tanto que apesar de achar o roteiro meia boca, não me cansei, não reclamei e veria de novo numa boa. Sinal claro de que filmes ruins podem funcionar, se forem bem feitos, o que sem dúvida este é. A trilogia Mad Max, iniciada em 1979,  com exceção do primeiro filme, tinha várias falhas, mas também funcionava. Tanto que até 1998 Max consta no Guinnes Book como o filme de maior retorno/custo na história do cinema: o filme custara US$ 400 mil aos produtores e arrecadou mais de US$ 100 milhões nas bilheterias mundiais.
As caçadas ao personagem no deserto permaneceram na nossa memória ao longo dos anos e são o melhor de tudo. George Miller, que dirigiu os três primeiros filmes e agora o quarto, sabia disso. Fez das cenas icônicas da corrida praticamente o filme inteiro de agora. Porque o resto é resto. Nada contra Charlize Theron, que se sai a contento (e consegue ser bonita até de cara suja, roupas do tipo militar e sem um braço), mas ela anula a figura de Max - que parece o menos louco de todos os personagens, passando apenas a imagem do sobrevivente a qualquer custo. Depois - mas só depois - de sair do cinema certas coisas soaram meio ridículas e me fizeram rir. Primeiro, as moças do harém - que como disse alguém, pareciam modelos da Fashion Week, praticamente não têm função a não ser dar gritinhos e fazer pose. Eu até aceitaria isso, mas é duro aguentá-las com aquelas roupas esvoaçantes, branquinhas, entrando e saindo de tempestades de areia, desmoronamentos de terra, etc, sem sujar a barra do vestido. Pior ainda, uma delas, que não abre a boca o tempo inteiro, sem mais nem menos vira um gênio estrategista: quando Max sugere voltar para a cidadela de onde tinham partido, é ela quem explica tintim por tintim ao grupo o que ele pretende e seus motivos. Aliás, não entendi a razão de Max não explicar, pois ao menos seria um pouco mais reativo como personagem. Também é risível o momento em que um guerreiro inimigo se infiltra no caminhão dos heróis e outra das “ mocinhas" lhe pergunta candidamente : "O que você faz aqui?", e imediatamente ficam amigos. Há outras incongruências que nem vou citar, porque a ação é tão bem feita que na verdade nada mais tem importância. Então, enjoy it, e depois vá comer um hambúrguer ou uma pizza para completar o programa.
Ahhh, adorei o carro de som que estimula os vilões, tendo à frente o demente guitarrista cego e os enormes tocadores de tambor atrás. Finalmente, o desespero pelo petróleo e pela água nesse mundo apocalíptico soam como um sinal do que nos espera no futuro. Ui, ainda tem até recadinho ecológico. Vou reclamar de que?




Quando vi Mad Max nos anos 80 e gostei, alguns amigos estranharam. Achavam que eu só curtia filmes do Bergman. Agora vi o novo Mad Max e me diverti outra vez. 
P.S. Continuo amando o Bergman.

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