No que se
refere a séries, 2017 já vai começar muito bom. Logo no primeiro dia do ano,
vai ao ar a tão esperada quarta temporada de Sherlock. Ainda é difícil saber
quando chegará ao Brasil, mas o que se sabe é que o três episódios serão
intitulados como “The Six Thatchers”. As últimas entrevistas dos produtores e
atores indicam que os capítulos finais de uma das melhores adaptações já feitas
para as histórias de Sir Arthur Conan Doyle devem superar as expectativas.
Sherlock
ambienta no século 21 as famosas aventuras do famoso detetive britânico com uma
agilidade e sagacidade de roteiro poucas vezes vistas na televisão. A série
ainda tem à frente um dos melhores atores da atualidade. Benedict Cumberbatch
tem sido um fenômeno em todos os trabalhos em que atua e, sem dúvida, é o
principal responsável também pelo sucesso de Sherlock.
Desventuras
em série
É grande a
expectativa também em relação a estreia da adaptação para a telinha da saga dos
livros campeões mundiais de vendas “Desventuras em série”, do escritor Daniel
Handler e que já rendeu um longa estrelado por Jim Carrey em 2004. O ator Neil
Patrick Harris (de How I met your mother) personifica Conde Olaf, tio de
Violet, Klaus e Sunny Baudalaire, crianças orfãs obrigadas a ficar sob os
cuidados de um parente mal-intencionado, interessado apenas em colocar as mãos na
herança dos três. A estreia é dia 13 de janeiro.
Punho de
Ferro e Os defensores
Quem é fã
de Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage terá em 2017 uma super dose de super-heróis. O
Netflix promete a estreia de duas séries desse universo da Marvel. Em março, estreia Punho de Ferro, com 13 episódios que conta a história de Daniel Rand
(Finn Jones), um bilionário e monge budista com poderes especiais e mestre em
kung fu.
Já Os Defensores
deverá reunir todo o universo da Marvel já visto pelo serviço de streaming.
É típico do ser humano: sempre queremos heróis, aqueles que nos
dão esperança quando tudo parece perdido. Talvez por isso parte da crítica
tenha se decepcionado com o bom filme de Clinton Eastwood, “Sully - O Herói do
Rio Hudson”(aliás, apenas “Sully”, em inglês), já que o personagem verídico
- interpretado com a maior simplicidade e competência por Tom Hanks - passa
longe da imagem do sujeito valente que arrisca a vida para salvar o mundo.
Até porque o verdadeiro Sully Sullenberger era um piloto de 57 anos quando
"aterrissou" dentro do rio Hudson, em Nova York, com 150 passageiros
a bordo e mais quatro tripulantes, durante um voo doméstico, sem que ninguém
morresse. O avião tinha acabado de decolar quando colidiu com um bando de pássaros
e ficou sem os motores, precisando fazer uma aterrissagem de emergência.
Na época, trabalhando em um jornal, lembro de olhar incrédula
para as fotos do avião dentro do rio e das pessoas sendo recolhidas por equipes
de resgate. Não me lembrava do rosto do piloto e do co-piloto, nem acompanhei
as discussões posteriores sobre se eles poderiam ter pousado em algum aeroporto
próximo, o que com certeza invalidaria o mérito do nosso "herói".
Bem, no cinema tive a chance, que todos podem ter, de saber como tudo aconteceu
de fato.Clint Eastwood continua um diretor de olhar
afiado sobre as pequenas grandes coisas que caracterizam o ser humano. E mostra
como um homem comum, ao ter de tomar uma decisão crucial, precisa contar com a
experiência acumulada e arcar com as consequências de seus gestos. No filme, o
incidente com o avião, por mais impressionante que seja, não é o essencial, mas
sim a maneira como Sully lida com o problema e com as dúvidas que cercam sua
atitude. Pois não bastava ter salvo a vida de todas as pessoas a bordo, ainda
teve de defender sua posição. E é aí que o filme “pega”. Por exemplo, quando o
confrontam sobre o critério usado para a decisão de pousar no rio, ele diz algo
como "meus 40 anos de experiência” (Sully voava desde os 16 anos). Ou
seja, não se trata apenas de coragem e nem mesmo de competência: decisões
tomadas em momentos difíceis são fruto, também, das experiências, erros e
acertos acontecidos ao longo do tempo.
Clint, como sempre, sabe do que fala. E Tom Hanks é um ator perfeito para o
papel. Contido, distante de estrelismos, do histrionismo e do glamour aos quais
é tão fácil a um ator de Hollywood se entregar, Hanks torna seu personagem
absolutamente crível. Como seu personagem, ele é um cara fazendo seu trabalho
da melhor maneira possível.
Não é um filme feito para ganhar Oscar, nem mesmo um grande filme. Mas é feito
por gente inteligente, para ser assistido por quem gosta de pensar sobre o que
faz um ser humano comum na hora em que tem de tomar uma atitude incomum.
Sem muito
alarde inicial, o filme A chegada, dirigido por Denis Villeneuve, é, sem
dúvida, uma das grandes surpresas do ano do gênero ficção científica.
Roteiro, ritmo, fotografia, direção de atores e, sobretudo, a interpretação de
Amy Adams, que protagoniza o filme na pele de uma especialista em linguística,
constroem um novo tipo de sci-fi para a tela grande. Há todos os elementos de mistério de uma narrativa típica do gênero: alienígenas chegam a Terra sem barulho, sem
ameaças, em 12 casulos que pairam no ar em 12 locais diferentes do planeta,
gerando pânico, declarações de guerra e a iminência de um conflito global. Tudo
isso simplesmente porque ninguém entende o porquê da presença dessas criaturas.
A dra. Louise
Banks, vivida por Amy Adams, é uma das poucas capazes de construir pontes
linguísticas que iniciam um processo de interação com os estranhos seres. A
beleza do filme e do roteiro está na maneira como é feita essa construção.
Villeneuve e o roteirista Eric Heisserer criam então um enredo de ficção
científica que trata do que nos faz essencialmente humanos, sobre as incertezas
em relação ao tempo que temos neste planeta e sobre uma contagem de tempo não
linear. A maneira como expressamos ideias, sentimentos, sonhamos e percebemos o
mundo é colocada em uma perspectiva de reaprendizado, afinal, como nos
apresentaríamos para uma criatura de outro planeta? Como uma criança percebe o
mundo?
O filme é
baseado no conto de Ted Chiang, que tem como título original “Story of your
life”. O ponto de partida a hipótese de Sapir-Whorf que, resumidamente, indica
que a linguagem que usamos determina a maneira como pensamos.
O filme A
chegada tem ainda Jeremy Renner e Forrest Whitaker. Embora estejam bem em seus
papéis, o foco é na personagem de Amy Adams, que faz com que o espectador
participe da história por meio de suas descobertas e leva quem assiste a sentir
todo o processo de descoberta que a personagem está passando. Há muitas
comparações sendo feitas com outras referências no gênero: 2001 – uma odisseia
no espaço (Stanley Kubrick), Interestelar (Christopher Nolan), A árvore da vida
(Terrence Malick) etc. A chegada é singular na maneira como humaniza as
questões científicas mais básicas, como as dúvidas em relação a espaço-tempo, o
quanto uma civilização pode alcançar em termos tecnológicos e a capacidade
humana de lidar com os avanços do conhecimento sem criar uma corrida
armamentista. É um roteiro que está muito mais para Isaac Asimov do que para
possíveis homenagens a outros cineastas, é muito mais literário nas questões
que aborda do que em termos de pretensão visual, embora seja um filme
belíssimo. É uma narrativa simples, de entretenimento, mas que eleva a ficção
científica a um patamar diferente, capaz de agradar tanto fãs do gênero quanto
a desavisados ou quem está apenas em busca de uma história bem contada.
O homem que
viu o infinito
Srinivasa
Alyangar Ramanujan foi uma matemático indiano que, após uma infância difícil em
Madras, na Índia, teve a oportunidade de apresentar a genialidade das
descobertas que fez na Matemática na Universidade de Cambridge, Inglaterra, no
período da Primeira Guerra Mundial. Desacreditado por outros acadêmicos por não
ter uma formação convencional, foi obrigado a ultrapassar o preconceito e as
formalidades acadêmicas para provar as teorias numéricas, séries infinitas,
frações, dentre outras descobertas.
O filme de
Matthew Brown – O homem que viu o infinito – é a bela cinebiografia do
matemático indiano, interpretado pelo carismático Dev Patel. O ator faz uma
fabulosa parceria com Jeremy Irons no longa, que vive o acadêmico Godfrey
Harold Hardy, um defensor da beleza estética da matemática pura. O destaque do
filme é sem dúvida as descobertas do protagonista, porém, o contexto social da
época assim como as diferenças culturais, que determinam a maneira como se
constrói conhecimento científico, é apresentado por meio das interpretações de
Patel e Irons – um é jovem e entusiasta da difusão do conhecimento puro e
simples, enquanto o professor mais velho fica entre a necessidade de inovação e o rigor da academia. O filme ficou em cartaz apenas no mês de outubro nos cinemas, mas acaba de ser lançado no Netflix.