sexta-feira, 26 de junho de 2015

A incrível história de Adaline: enganando o tempo

Por Dora Carvalho

Desde vez em quando, filmes com histórias simples e produção despretensiosa conquistam o espectador sem fazer muito alarde. Esse foi o caso de A incrível história de Adaline (2015), um drama épico estrelado pela atriz Blake Lively (a eterna Serena Van der Woodsen do seriado Gossip Girl). Como se fosse um conto, o enredo flerta com o sobrenatural e brinca com a ciência, misturando passado, presente e futuro, para contar a história de Adaline Bowman, uma americana que nasceu na virada de 1908 e teve uma vida normal até os 29 anos, quando, após um grave acidente, simplesmente parou de envelhecer.
Que mulher nunca pensou, ao menos uma vez, em parar o relógio do envelhecimento? Para Adaline Bowman, isso passou a ser uma maldição, obrigando-a a fugir das autoridades e a não criar laços afetivos com ninguém até conhecer Ellis Jones (Michiel Huisman – ator holandês e o galã do momento desde a estreia na quinta temporada de Guerra dos Tronos).
Blake Lively está bem no papel de uma mulher com 107 anos, sem grande necessidade de interpretação, porque a história em si já é bastante curiosa. Ainda mais quando ela está em cena como a mãe de uma mulher idosa, interpretada por Ellen Burstyn, que já tem 82 anos. Mas a atriz consegue se descolar do estilo “bombshell” que sempre foi associado ao personagem do seriado de TV.  O figurino impecável da produção ajuda a criar a aura de uma mulher que atravessou diversas vanguardas de moda. Há sempre algum acessório no vestuário ou decoração da casa da personagem que nos leva a entender que se trata de uma mulher que já viveu muito. Interessante perceber os diversos elementos criados pela produção para que o espectador entre no espírito de alguém que viu 100 anos da história dos Estados Unidos, mesclando o roteiro com cenas reais do passado através filmagens antigas.
O longa é dirigido por Lee Toland Krieger, cineasta de apenas 32 anos e com outros dois filmes no currículo – Celeste e Jesse para sempre (2012) e The Vicious Kind (2009). A produção teve orçamento de US$ 30 milhões e conseguiu arrecadar US$ 13 milhões apenas no primeiro final de semana de lançamento, em abril de 2015, surpreeendendo o estúdio Lakeshore e a produtora Lionsgate.
Harrison Ford faz uma interessante participação especial no filme. É bom ver um ator experiente fazendo dramas curiosos como esse com certa dignidade, sem cair nas comédias românticas sem graça do momento, como temos visto acontecer com Robert De Niro, Dustin Hoffman, só para citar alguns. O mesmo pode ser dito sobre Kathy Baker, que eu já gostava desde o filme O clube de leitura de Jane Austen (2007).
Quem espera encontrar um enredo parecido com O curioso caso de Benjamin Button (David Fincher, 2009), baseado no conto de F. Scott Fitzgerald, já aviso que não tem nada a ver. A incrível história de Adaline é singular, leve e nos convida a pensar em quantas vezes podemos desperdiçar oportunidades que a vida nos apresenta. Mas é sem dúvida um filme agradável de assistir em um dia de inverno e aproveitar a linda trilha sonora,  que tem de Ella Fitzgerald a Bob Dylan, para ajudar a marcar a passagem do tempo.

A incrível história de Adaline (2015)
1h52
Direção: Lee Toland Krieger






sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sense8: estranhas sensações

Por Dora Carvalho

Desde o sucesso de Matrix (1999), os irmãos Wachowsky tentam um filme após o outro criar roteiros e efeitos especiais que surpreendam tanto quanto a trilogia que levou os dois cineastas ao mainstream do cinema. A questão é: se a estratégia de criar uma história com múltiplas referências da cultura pop deu ótimos resultados uma vez por que não repetir a fórmula? O fato é que não está dando muito certo. Lamento dizer e já foi triste perceber isso em Cloud Atlas (2013), que reunia um time excelente de atores e tinha uma ideia bem interessante.
Sense8, a série dos dois cineastas produzida para o Netflix, surpreende sim, pela ousadia do roteiro, cenas espetaculares, filmagens em várias partes do planeta, a profusão de cores e o turbilhão de imagens que passam por Londres, Berlim, Mumbai, Nairóbi etc, com locações e planos que raramente são vistos em uma produção para televisão. A ideia de que oito pessoas estão conectadas de alguma forma e que, mesmo a milhares de quilômetros de distância conseguem sentir o que o outro está sentido – os “sensates”- é sensacional - não há outra palavra, com perdão da redundância. E também há um pouco de experimentalismos, o que é sempre ótimo.
Os atores estão excelentes em cena, com destaque para o mexicano Miguel Ángel Silvestre, no papel de Lito, e é muito bom ver artistas americanos, mexicanos, coreanos, indianos, etc, em uma única produção e ainda falando os próprios idiomas. Todos muito bem em seus papéis e entrosados. Outro destaque do elenco é a participação de Daryl Hannah, cuja personagem parece ser o ponto inicial de conexão entre os sensates. Pena que a história seja tão estranha e mal amarrada. É preciso pelo menos três episódios (são 12 no total) para pararmos de nos perguntar: afinal, sobre o que é a série? Só fica melhor quando as conexões entre os sensates começam a aparecer e as microestórias prendem a nossa atenção, mesmo que a gente não saiba muito onde o enredo condutor da trama vá nos levar.
O que fica claro desde o início é a autorreferência. A cena final de tiroteio do primeiro filme da saga Matrix tem um claro “remake” em um dos episódios – foi divertido, porque teve reprise até da sonoplastia e pareceu proposital. O que incomoda é a mania atual dos Wachowsky em querer não fazer sentido, como aconteceu em Cloud Atlas, isso sem contar O destino de Júpiter (2014).

Ok, ok, para quê fazer sentido, com atores tão lindos, cenas exuberantes e uma superprodução globalizada? Realmente, não precisa. Que pena! A série tinha tudo para ser perfeita. Mas vale pela ousadia. Os produtores não tiveram medo de fazer cenas fortes de violência e de sexo intenso. Não há nada de politicamente correto na série. Ufa!





sábado, 13 de junho de 2015

Spader: no topo, de onde nunca devia ter saído

Por Vilma Pavani 

James Todd Spader é um daqueles atores que seguram qualquer parada, mas raramente é reconhecido pelo grande público como o ótimo ator que é, apesar de já ter vencido o Emmy e o Globo de Ouro. Nascido em 1960 em Boston, Massachusetts, EUA, é capaz de fazer (bem) tanto o galã de comédias românticas quanto papéis excêntricos ou perturbadores. Estreou em 1981, em Amor sem fim e se deu bem ao fazer o “vilão” de A Garota de Rosa Shocking, em 1986, quando ganhou fôlego para saltos mais altos. Em 1987 fez Wall Street: Poder e Cobiça, e em 1989 ganhou prêmio de melhor ator em Cannes com o cult Sexo, Mentiras e Videotape, de Steven Soderberg. Talvez aí tenha começado a se especializar em personagens complicados, cínicos e até bizarros, caso de Secretária, uma história sadomasoquista perturbadora, que bota 50 Tons de Cinza no chinelo. Ou no chinelo do chinelo. Particularmente, fui e sou fã de uma série de TV – Boston Legal, que aqui se chamou Justiça sem Limites - em que Spader formava uma dupla de advogados juntamente com o famoso “capitão Kirk”, William Shatner. Divertida e irônica, a série durou de 2004 a 2008, com cinco temporadas. Só não durou mais, eu acho, porque era inteligente demais e abordava temas espinhosos demais (como eutanásia ou pena de morte) para o gosto médio americano.
Depois disso, Spader fez algumas bobagens irrelevantes no cinema. Mais velho e mais gordo, parecia condenado a papéis menores, até que algum iluminado o chamou para fazer a série “The Blacklist”, uma aposta de peso da NBC americana e em que ele faz Raymond "Red" Reddington, um gênio do crime procurado pelo FBI e que decide se entregar às autoridades com uma lista de desafetos que pretende exterminar.
O misterioso personagem conquistou de cara o público, com seu humor negro e aquele charme perturbador de que só Spader seria capaz . Apesar de alguns atores insossos, a série funciona, graças ao ator, e vai muito bem, obrigada.
Spader é um dos “sortudos” que souberam aproveitar as chances abertas pela TV nos últimos anos, com suas séries bem feitas e que oferecem um produto bem melhor do que o atual cinema comercial americano, que anda chato de fazer dó. Mas ao mesmo tempo, aproveitou também a onda de super-heróis da Marvel e está nas telonas como o vilaníssimo Ultron em Os Vingadores: a era de Ultron. Uma curiosidade: no primeiro dia de James Spader no set, o elenco ficou tão impressionado com sua performance, que aplaudiu e torceu pelo ator logo após a primeira tomada.
Outra curiosidade é que Spader sofre de um problema de vista que o impede de usar lentes de contato. Assim, quando não pode usar óculos, diz ele que só enxerga os colegas de muito perto e em borrões. Não faz mal... importante é que NÓS o enxerguemos, certo?







Vilma Pavani já foi míope e entende como é difícil fazer qualquer coisa sem óculos. Mas entende que a vantagem é não ter de enxergar, se não quiser, o bando de chatos que sempre existem em torno da vida da gente.

sábado, 6 de junho de 2015

Expectativa: Crimson Peak - A colina escarlate

Por Dora Carvalho

Sabe quando um filme nem estreou, mas só de ver o teaser já se tem certeza que vai gostar? É o caso de A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015) de Guillermo del Toro (Labirinto do fauno, 2006). Pelo jeito não sou só eu, porque só na página oficial do filme no Facebook no Brasil há mais de 100 mil seguidores. Isso porque estamos a cinco meses do lançamento oficial do longa.
O filme tem no elenco Mia Wasikowska, Tom Hiddlestone, Jessica Chastain e Charlie Hunnan. O enredo conta a história de Edith Cushing (Mia), que se apaixona por Thomas Sharpe (Hiddlestone) e é levada para uma estranha casa de cor vermelho sangue, que fica no alto de uma colina. Lá, a jovem se depara com a sombria irmã de Sharpe, Lucille (Chastain) e estranhos e antigos segredos de família que irão assombrá-la. Parece haver um quê de Jane Eyre (livro da escritora britânica Charlotte Bronte) na história. Vamos aguardar.
No teaser do longa, uma linda versão para Red Right Hand de Nick Cave, o que gera ainda mais expectativas para uma trilha sonora digna de um thriller gótico.








Site oficial do filme:


quarta-feira, 3 de junho de 2015

O poema do caos

Por Vilma Pavani
Já vou avisando aos mais entusiasmados que vi uma porção de defeitos no novo Mad Max (A Estrada da Fúria), a começar pelo próprio Mad Max - não o ator em si, mas o personagem (embora Tom Hardy nem de longe cause o impacto de Mel Gibson na época do original). Mas é impossível não se deslumbrar com o visual ensandecido do filme, que considero mesmo o “poema do caos” a que me refiro no título. Vi o filme no Imax, o que já é uma imersão na tela, e as imagens me pegaram em cheio. Tanto que apesar de achar o roteiro meia boca, não me cansei, não reclamei e veria de novo numa boa. Sinal claro de que filmes ruins podem funcionar, se forem bem feitos, o que sem dúvida este é. A trilogia Mad Max, iniciada em 1979,  com exceção do primeiro filme, tinha várias falhas, mas também funcionava. Tanto que até 1998 Max consta no Guinnes Book como o filme de maior retorno/custo na história do cinema: o filme custara US$ 400 mil aos produtores e arrecadou mais de US$ 100 milhões nas bilheterias mundiais.
As caçadas ao personagem no deserto permaneceram na nossa memória ao longo dos anos e são o melhor de tudo. George Miller, que dirigiu os três primeiros filmes e agora o quarto, sabia disso. Fez das cenas icônicas da corrida praticamente o filme inteiro de agora. Porque o resto é resto. Nada contra Charlize Theron, que se sai a contento (e consegue ser bonita até de cara suja, roupas do tipo militar e sem um braço), mas ela anula a figura de Max - que parece o menos louco de todos os personagens, passando apenas a imagem do sobrevivente a qualquer custo. Depois - mas só depois - de sair do cinema certas coisas soaram meio ridículas e me fizeram rir. Primeiro, as moças do harém - que como disse alguém, pareciam modelos da Fashion Week, praticamente não têm função a não ser dar gritinhos e fazer pose. Eu até aceitaria isso, mas é duro aguentá-las com aquelas roupas esvoaçantes, branquinhas, entrando e saindo de tempestades de areia, desmoronamentos de terra, etc, sem sujar a barra do vestido. Pior ainda, uma delas, que não abre a boca o tempo inteiro, sem mais nem menos vira um gênio estrategista: quando Max sugere voltar para a cidadela de onde tinham partido, é ela quem explica tintim por tintim ao grupo o que ele pretende e seus motivos. Aliás, não entendi a razão de Max não explicar, pois ao menos seria um pouco mais reativo como personagem. Também é risível o momento em que um guerreiro inimigo se infiltra no caminhão dos heróis e outra das “ mocinhas" lhe pergunta candidamente : "O que você faz aqui?", e imediatamente ficam amigos. Há outras incongruências que nem vou citar, porque a ação é tão bem feita que na verdade nada mais tem importância. Então, enjoy it, e depois vá comer um hambúrguer ou uma pizza para completar o programa.
Ahhh, adorei o carro de som que estimula os vilões, tendo à frente o demente guitarrista cego e os enormes tocadores de tambor atrás. Finalmente, o desespero pelo petróleo e pela água nesse mundo apocalíptico soam como um sinal do que nos espera no futuro. Ui, ainda tem até recadinho ecológico. Vou reclamar de que?




Quando vi Mad Max nos anos 80 e gostei, alguns amigos estranharam. Achavam que eu só curtia filmes do Bergman. Agora vi o novo Mad Max e me diverti outra vez. 
P.S. Continuo amando o Bergman.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Em alta pulsação: Whiplash

Por André Armiliato

Ao sair do cinema minha pulsação estava acelerada, tive que parar por um tempo e recuperar o fôlego, e isso foi pra mim a maior prova de que Whiplash (2014) é um filme espetacular!
O ritmo acelerado me manteve preso a tela do começo ao fim, como se eu quisesse estar no lugar do garoto Andrew Neyman (Miles Teller), o jovem baterista que tem um sonho ambicioso: ser um dos grandes do jazz. E isso traz uma proximidade muito grande com muitos de nós, que também temos nossos próprios sonhos e lutamos por eles. Quem dera tivéssemos toda a determinação de Andrew, que tem que “enfrentar” o carrasco maestro Terence Fletcher (J.K Simmons) para prosseguir com sua carreira, e por isso deixa de lado sua vida pessoal, focando todas suas forças em seu objetivo. Com esses dois personagens bem caracterizados, e com atuações espetaculares, o filme tem cenas sufocantes, em que Andrew é pressionado por Fletcher além de seus limites.
Essa discussão de “limites” é tratada no filme de uma maneira muito interessante, sempre deixando a pergunta: até que ponto alguém deve ser pressionado para buscar a perfeição?

Vale lembrar que a trilha sonora acompanha o filme quase que como um personagem, ajudando a contar essa história, sendo muito bem explorada na cena final do filme, onde os personagens quase não têm falas, mas conseguem se expressar usando a música. Cena muito bem dirigida e que pouco se vê no cinema hoje em dia.







André Armiliato é estudante, tem 16 anos, toca bateria e violoncelo.