Por Dora Carvalho
O universo
criado pela escritora britânica J.K. Rowling é tão rico e extenso que não é
difícil imaginar uma série de livros e filmes para os próximos anos. O curioso
e positivo foi a escolha do personagem Newt Scamander para retomar o mundo
mágico dos bruxos. Quem leu os livros atentamente vai se lembrar que, embora
ele tenha sido citado em vários momentos na obra, não era um personagem que
saltava na trama. Era de se imaginar que outros personagens famosos como o
próprio Lorde Voldemort, o bruxo e diretor de Hogwarts Alvo Dumbledore ou ainda
os próprios pais de Harry Potter pudessem protagonizar alguma história. Mas
acho que está aí o acerto de J.K. Rowling. A criação de um novo roteiro baseado
em um personagem que não havia gerado tanta expectativa nos fãs foi uma aposta
certeira, porque só criou ainda mais curiosidade.
Outro ponto
importante é que essa escolha permite múltiplos cenários. A cidade de Nova York
dos anos 20 em pleno desenvolvimento econômico como ponto desencadeador dos
acontecimentos ajudou a gerar desdobramentos futuros que permitem a continuação
neste mesmo local ou ainda a aposta em uma época ou país diferente. Fica
provado em Animais fantásticos e onde habitam que as prometidas cinco
sequências para o longa podem render muitas surpresas. Os próprios animais e a
diversidade de criaturas, como os dragões, já renderiam boas histórias. Mas o
foco da trama parece ser o vilão Gellert Grindelwald, vivido nas telas por
Johnny Depp (perfeito!), que é citado de forma breve em Harry Potter e a Pedra
Filosofal e depois ganha mais peso em Harry Potter e as Relíquias da Morte. A
necessidade de o mundo bruxo ser escondido dos “trouxas”, ou seja, pessoas
comuns, sem características mágicas, entra em discussão, já que há aqueles que
sempre acreditaram em uma não separação entre bruxos e não-mágicos (a nova
denominação utilizada em Animais fantásticos e onde habitam). Por um bem maior,
os trouxas não podem saber da existência de poderes com os quais não sabem
lidar sob o risco de tentar utilizá-los de forma perigosa, como em guerras. Mas
há ainda aqueles que acreditam em uma união entre as pessoas, com a permissão
de casamentos e criação de famílias de trouxas e bruxos, o ponto mais polêmico
da discussão. Se antes a história girava em torno de um menino bruxo que
sobreviveu a um terrível ataque do Lorde das Trevas, desta vez, todo o universo
fantástico de J.K Rowling sustenta o enredo do mais novo longa e os próximos
que estão por vir.
Como
sempre, a escritora que também é produtora do filme, teve o cuidado extremo de
escolher cada detalhe, principalmente, os atores. Eddie Redmayne (ganhador do
Oscar pelo filme A teoria de tudo) foi uma escolha excelente. O ator, que já
vem provando ao público a versatilidade com que interpreta diversos tipos,
imprime um carisma ao personagem absolutamente diferente da impetuosidade de
Harry Potter, Hermione e Rony, mas é ao mesmo tempo alguém tímido e destemido
e, sobretudo, um apaixonado pelo mundo dos bichos, um cientista, um pesquisador
que tem muito a revelar ao mundo. É o personagem que se revela aos poucos, algo
que Redmayne faz com maestria. Eu não consigo deixar de relacionar a composição desse personagem com certas características de Hermione Granger, principalmente quando se fala da maleta mágica de Scamander.
A atriz Katherine
Waterston, que vive Porpetina Goldstein ou Tina Goldstein, teve boa harmonia
com Redmayne e, apesar de não ser tão conhecida da tela grande, provou ser a
melhor escolha, já que faz uma auror expulsa de uma divisão de investigações do
Ministério da Magia nos Estados Unidos, uma espécie de FBI bruxo.
Colin
Farrel faz Percival Graves, mas o que se pode dizer aqui sem dar nenhum spoiler
é que o personagem ajudar a entrelaçar a trama.
O lado
cômico ficou por conta do personagem Jacob Kowalski, vivido por Dan Fogler, que
faz um não-mágico e protagoniza as cenas mais divertidas da trama.
Queenie
Goldstein, a irmã de Tina, vivida pela atriz Alison Sudol, é o personagem que, por enquanto, promete ter
habilidades que podem render no futuro reviravoltas no enredo.
O filme é
realmente encantador, não penas pela trama que é simples, porém, cheia de
possibilidades, mas pelos lindos efeitos especiais e cenas de ação de arrepiar,
tamanha a veracidade. Ainda mais considerando que se trata do impossível. A
cena final é comovente: emoção e beleza em altas doses.