domingo, 6 de março de 2016

A garota dinamarquesa merece mais atenção

Por Dora Carvalho

Tom Hooper é um diretor para prestar muita atenção. Ganhador de Oscar em 2011 pelo filme O discurso do rei, causou, à epoca, controvérsias, pois concorria com David Fincher, irmãos Coen, David Russell e Darren Aronofsky e havia uma certa torcida para os filmes A rede social e Cisne Negro.
É certo que O discurso do rei é um excelente filme, redondo, bem executado, mas a polêmica sobre a premiação é válida, pois não é um longa que sugere grandes inovações cinematográficas (embora eu adore o filme, sobretudo por causa da atuação de Colin Firth, também ganhador do Oscar pelo longa). Mas o tempo está mostrando que Hooper é um diretor em ascensão, sem oscilações que diminuam a credibilidade e consistência. O filme A garota dinamarquesa (2015) parece ser a prova disso.
O cineasta tem apenas 44 anos e os primeiros trabalhos mais famosos foram na BBC, em que dirigiu a belíssima série Daniel Deronda (2002), baseada no livro de Mary Ann Evans, que assinava com o pseudônimo de George Eliot.  Também foi responsável pela impecável direção da minissérie John Adams (2008), transmitida pela HBO.
Hooper parece ser um diretor dos novos tempos, cuja versatilidade para TV e cinema acabaram por transformá-lo em alguém que muda as feições do próprio estilo a cada produção. Em A garota dinamarquesa percebe-se a mão minuciosa do diretor, que pincela detalhes, passando pela grande atenção à interpretação dos atores, deixando-os à vontade em cena (isso me parece nítido), além da fotografia sempre lindíssima, assinada por Danny Cohen, que já fez parceria com Hooper nos quatro últimos longas do diretor. Vale destacar ainda os recursos cenográficos e enquadramentos que sugerem ora amplitude ora foco, em pequenos instantes de aparente insignificância para trama, que depois saltam aos olhos para fazer toda a diferença no enredo.
O longa A garota dinamarquesa conta o drama vivido pelo pintor Einer Weneger/Lili Elbe (interpretado pelo ator Eddie Redmayne), primeiro na história a se submeter à cirurgia de mudança de sexo. Weneger foi casado com a também artista plástica Gerda Weneger, que o apoiou no processo de mudança. O foco do filme é a descoberta do artista como mulher e o relacionamento com a esposa. Há muitas divergências quanto a acuidade histórica, pois o filme é apenas inspirado no livro de título homônimo escrito por David Ebershoff. 
A belíssima fotografia e a maneira como a luz é aproveitada mostra claramente que se trata de um universo de artistas plásticos e do olhar desses personagens em relação ao mundo, sempre a procura da melhor luminosidade, ângulo e a captura de uma essência para as coisas e nos leva, pouco a pouco no enredo, a também procurar a essência dos personagens. 
A história se passa nos final dos anos 20, o belíssimo período da explosão das artes plásticas na Europa e o filme, sem dúvida, resgata isso, com cenas que lembram uma pintura impressionista.
Mas o que chama a atenção realmente é o fato de, mais uma vez, Tom Hooper ser responsável por uma produção notável, que merecia ter tido mais atenção por parte da Academia de Cinema, com mais indicações.
Sem dúvida, não é apenas um drama comovente. É uma história que alerta para o fato de que, ainda hoje, com tantas inovações na Medicina, e após tantas décadas, ainda é um tema tratado com absoluto descaso. A interpretação de tirar o fôlego de Eddie Redmayne, que também merecida o Oscar, e de Alicia Vikander (que ganhou a premiação na categoria atriz coadjuvante) nos leva a uma série de questionamentos. Preste atenção no diretor. E também fique atento à mensagem do filme.






2 comentários:

  1. Excelente crítica de um filme imperdível!

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  2. Oi Dora,
    Estou curiosa para ver este filme. Só ouvi comentários positivos. Gostei da resenha e ela me deixou com mais vontade ainda.
    bjs

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